domingo, 30 de dezembro de 2007

Desejos de Ano Novo do Chico



A minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse:
Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
(...)
E quem for cego veja de repente
Todo o azul da vida
Quem estiver doente
Saia na corrida
Quem tiver presente
Traga o mais vistoso
Quem tiver juízo
Fique bem ditoso
Quem tiver sorriso
Fique lá na frente
Pois vendo valente
E tão leal seu povo
O rei fica contente
Porque é Ano Novo

Que o ano 2007 acabe em beleza e o de 2008 comece em alegria ainda maior... também com estes olhos a cantar para nós, não é difícil.

Nota: prometo responder aos comentários mal volte a Lisboa, mas obrigda a todos.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A mala para o fim de ano


De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte
E mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar,ao vento e à lua

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Amanhã por estas horas já estarei na minha praia, a ver o meu mar da varanda virada ao vento. Ainda não fiz as malas, mas sei tudo aquilo que tenho de levar para gastar os últimos cartuchos de 2007 e receber com alegria e muito champanhe o 2008.

Os patins em linha para estrear e, quem sabe, começar o ano com o pé direito; as camisolas de gola alta, muitas, para vestir todas de uma vez, os cachecóis mais compridos e mais quentinhos que nunca uso, para enrolar ao pescoço, as mantinhas todas que andam espalhadas pela minha casa, à espera que eu as apanhe para me aninhar em qualquer cantinho a dormir ou a ler, os sacos de água quente (as minhas meninas, como lhes chamo!), a almofada com buracos para os pés para que estejam sempre quentinhos, as meias até ao joelho e os pés de meia, os gorros que levei a Londres e nunca mais usei, os casacos quentinhos e as luvas, os aquecedores, a chaleira eléctrica e muitas saquetas de chá para nos aquecermos, as minhas caixinhas de música para me embalarem, o mp3 para poder ouvir, cantar e dançar e o monte de livros que está na minha cabeceira, para ver se os leio de uma vez.

Acho que vai ser assim quentinho o meu fim de ano, na minha praia, no meu mar, com os meus amigos e com os meus olhos verdes preferidos. Ouvi dizer que por lá o sol tem andado muito simpático, mas não quero acreditar nessas histórias... eu quero o frio e o Inverno, para poder ficar aninhada num colo, dar abraços quentinhos e receber beijinhos doces.

BOM ANO DE 2008 CHEIO DE SAÚDE, SONHOS, AMOR, PAIXÃO, POESIA, MÚSICA, DANÇA E MUITA VIDA...

Fim de tarde no Ginjal

Cacilhas - Ginjal (foto de António Melenas)

Ao fim da tarde, do outro lado do Tejo, a cidade de Lisboa vai-se desenhando em sombras e pontos de luz amarelos e encarnados, como um lençol que se abre e se estende à beira-rio. Vai crescendo em pontilhado e nós, ali sentados, a ver o dia desaparecer, adivinhando nas sombras os lugares do lado de lá. O céu alaranjado que nos rodeia vai ficando mais escuro até nascerem no céu as estrelas do Inverno. Devagar, o dia vai dormir e nós com ele deixamo-nos ficar sentados, envoltos na ternura do fim do dia e do ano. Sem pressas, o mundo vai passando como as águas do rio em maré cheia, por entre as ondas onde poisam dois cacilheiros iluminados.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Receita de Ano Novo


Porque este ano está quase a acabar e estamos uma época em que geralmente fazemos o balanço do ano que passou e começamos a desenhar os sonhos do que há-de vir, deixo-vos com a Receita de ano novo, de Carlos Drummond de Andrade.

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Foi Natal na nossa casa...

Gosto do Natal. Do espírito, de estar com toda a família e com os amigos que já são família, das iguarias, de desembrulhar presentes… mas do que gosto mais é da magia que o envolve e que o ilumina. São os pequenos pozinhos de perlimpipim que sobrevoam estes dias e estas noites coloridas e tão quentinhas.

Na véspera de Natal, continuo a acordar com a mesma ansiedade de antes, mas a correria das vésperas é cada vez maior. O que significa que a espera é menor!

No primeiro Natal na nossa casa, olho para a minha árvore e sorrio, orgulhosa. Vejo os presépios de que tanto gosto, sei porque comprei cada um deles e são todos muito especiais. Os presentes, debaixo do abeto, vão crescendo e a vontade de os abanar e apalpar é imensa. Não sei que juízo me passou este ano pela cabeça para não o fazer. Consegui conter a curiosidade que só iria ser desfeita a 25, no chão, de sorriso aberto e cheia de borboletas e sonhos na barriga.

Este ano o Pai Natal veio muitas vezes! De há uns anos para cá é quase sempre assim. Começou a 16, em casa da Tia, onde as crianças ainda somos nós e onde pude recordar com muita saudade os Natais em casa do meu avô. Depois continuou a 23, num fim de tarde com a Madrinha. Um presente especial, num embrulho azul… uma ansiedade enorme para ver o que era… e quase chorei quando desembrulhei e vi - uma caixinha de música. Depois, foi esperar por todos os sítios onde parámos no Natal e nos sentámos à chinês, debaixo das árvores, a abrir os presentes. A praticar essa arte de desembrulhar, sem rasgar, contendo o entusiasmo para saber o que é. Acho que nesta arte ainda sou uma criança…

O Pai Natal foi generoso e, melhor do que tudo, dever ter lido a minha carta, mas também os meus sonhos. Pois os meus maiores desejos apareceram bem embrulhados e foram abertos com sorrisos e com beijinhos por baixo de azevinho. Também gosto de dar, gosto de escolher, mas também de fazer presentes, de os embrulhar e de enfeitar com laços e fitas, etiquetas e mensagens especiais. Gosto de ver os outros sorrir quando recebem os meus presentes. De dar doces aos gulosos, de escolher os livros pelos títulos, de dar aquilo que muito se deseja, de surpreender, de dar mantinhas à minha avó…

Nestes dias, gosto de passear de casa em casa, de sentar de mesa em mesa, de provar os sonhos de todos, de comer muitas rabanadas e coscorões, de pedir que me cortem o peru, de voltar à mesa, no fim da noite, e ficar a comer só por gula, gosto de ver os meus primos a desembrulhar os presentes e de saber que agora o Natal é mais deles do que meu. De deitar a cabeça no colo de alguém, de sentar à lareira, no banquinho de casa da Avó, e de relembrar quando o Natal era nosso e como foi sempre bom. De ir a casa dos meus pais na manhã de 25, para abrir com eles os presentes e de ver a cara da minha irmã sorrir, apesar de ser a senhora Scrooge do nosso Natal. De chegar e ver a porta da sala fechada, como o meu avô fazia, porque o Pai Natal podia ainda estar por ali, e de recordar as vezes que ele espreitava e dizia que não estava lá nada, mas estava sempre. De rir à gargalhada com essas cumplicidades e perdermo-nos em recordações tão felizes.

De passar a tarde a passear por aqui e por ali, de ir ter com os miúdos e brincar com as coisas novas. De estar em minha casa um bocadinho mais e saber que ali é Natal. Foi Natal na nossa casa, o primeiro… Agora é esperar pelo Ano Novo.


terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Cais das Codornizes (VII)


A todos um Bom Natal, com a música When a child is born, cantada por Charles Aznavour, Plácido Domingo, Sissel Kyrkjebo e Josep Carreras, no codornizes, e pelo Saint Philips Boys Choir, no Cais.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Cais das codornizes (VI)


Agora que a meia noite se vai aproximando, os desejos de Natal vão ficando mais claros. Por isso, esta noite canta-se All I want for Christmas is you. O meu cais escolheu a versão original de Mariah Carey. No codornizes ouve-se a do filme Love actually, cantada por Olivia Olson, que tinha então 11 anos.




'Cause I just want you here tonight
Holding on to me so tight
What more can I do
Baby all I want for Christmas is you

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Carta ao Pai Natal...

Carta ao Senhor Gordinho e com barbas brancas e traje encarnado, com cinto e botas pretas...

Este ano não fiz muitas asneiras, por isso gostava de receber uma caixinha de sonhos como esta. Se calhar já venho tarde, mas, como te peço sempre o mesmo, pode ser que seja desta.

Um beijinho enorme e lá nos encontramos na chaminé, na noite de vinte e quatro. Desta vez, espero que venhas mais cedo, para que te possa ver.

Nota: Dedico esta entrada à M.A., tentando mais uma vez que ela acredite no Pai Natal!

Regresso...


Voltei a bom porto....

Depois de quase uma semana sem acesso a este maravilhoso mundo da Internet só tenho a dizer que tive saudades!

P.S. Dedico esta entrada à Sandy, para que a fotografia a inspire...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Homenagem em vida

A propósito de uma entrada do sem-se-ver, relembrando o facto de só darmos importância a alguns quando morrem, ou quando ganham prémios, sendo que é nessas alturas que os lemos mais, que os citamos mais. Muitas das vezes já vamos tarde, não sabendo dar-lhes em vida o reconhecimento que merecem. Assim, lembrei-me de uma coisa que estou há muito para pôr aqui - uma homenagem, em vida, a António Ramos Rosa. Um poeta que me é especial, por ter o privilégio de o conhecer pessoalmente, de ter privado com ele, no lar de artistas onde está. Mas mais especial do que isso, o poder ter sabido dos seus poemas logo no dia em que os escrevia e reconhecer a sua calma, na beleza da sua poesia. Por isso aqui fica a minha homenagem e o meu sorriso de que tanto gosta, porque não esquecerei um poema que me dedicou. Mas hoje, deixo aqui um poema que dedicou aos alunos da Professora Raquel Andrade, que o souberam ouvir, atentos, como nunca ninguém nos fez estar.

Se eu não conhecesse o amor nem a inocência
nem a maravilhosa juventude
se eu não reconhecesse o rosto da vida
se eu fosse opaco
se eu estivesse empedernido
se eu não confiasse em nada
se eu fosse incapaz de u,m gesto de ternura
se tivesse perdido a inteligência da dança
e o meu saber não tivesse a sabedoria do saber
e do sangue
se eu tivesse perdido o dom da atenção ao ardor obscuro
da vida animada pelo desejo
eu teria renascido quando vos vi
eu teria respirado a pureza dos vossos rostos~eu teria renascido
eu teria entrado no adorável país
da juventude do sol.
(27 de Fevereiro de 2002)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Micro-narrativa (II)

(Mar do Baleal - FL - 09/05/2003)


Quem me dera ser onda, enrolar-me na areia, soltar-me do ar e morrer para renascer a cada instante. Ser sempre nova e renovada, feita de matéria outra a cada instante e ter cada gota de água por amante. Ser feroz nos dias cinzentos, soltar as amarras e lançar-me contra as rochas, para me dividir e multiplicar. Ser pairar nos dias felizes, quando o azul do céu é azul em mim.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Este ano o Pai Natal sou eu...


Podemos não ter a barriga, a barba, o gorro e o traje encarnado, mas este ano desafio-te a seres Pai Natal por um dia, aceitas?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Abraçamar

(Abraço - Escultura de Ceschiatti)

- Deixa-te cair no meu regaço,
envolta-te no meu abraço
e fica aqui.
Fala baixinho, chora baixinho, que eu canto uma canção de embalar...
Fecha os olhos azuis.
Quando acordares do nosso abraço, o mal já passou...
Esconde aqui o teu rosto, dentro do meu ombro e deixa-te adormecer...
O mundo segue lá fora, do ombro, do abraço...
Dá-me um braço, depois o outro... Não tenhas medo...
Tudo passa com um abraço...
NOTA: À J., por causa de um abraço!

Bem-vinda...


Mad., bem-vinda sejas, se vieres por bem...

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P.S. Uma música para ouvires enquanto comes morcelas com laranja...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cumplicidades... e um presente!

A música tem o poder de saber dizer aquilo que às vezes nos custa, ou aquilo que não somos capazes de dizer. Gosto de roubar pequenos versos, pequenos pedaços de muitas delas e cantá-las em momentos oportunos! Assim, algumas músicas vão aos poucos sendo 'nossas'... e minhas, já tenho tantas... Hoje, em duas delas, descobri esta cumplicidade:


Mi escondite, mi clave de sol, mi reloj de pulsera,
una lámpara de Alí Babá dentro de una chistera,
no sabía que la primavera duraba un segundo,
yo quería escribir la canción más hermosa del mundo.
(...)
Nunca pude cantar de un tirón
la canción de las babas del mar, del relámpago en vena,
de las lágrimas para llorar cuando valga la pena,
de la página encinta en el vientre de un bloc trotamundos,
de la gota de tinta en el himno de los iracundos.
Yo quería escribir la canción más hermosa del mundo.

(Joaquín Sabina)

Te voy a escribir la canción más bonita del mundo,
voy a capturar nuestra historia en tan solo un segundo.
Y un día verás que este loco de poco se olvida,
por mucho que pasen los años de largo en su vida.

(Oreja de Van Gogh)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Um embrulho

Que venha o cheiro ao pó das amêndoas acabadas de partir e o das nozes ainda por secar; que venha o das vinhas que é doce e o da erva fresca dos prados. Que venha o fumo dos fumeiros e o sabor acre dos queijos. Que venha o zimbro, o sal, o mel e o azeite. Que venham figos, pães, chás, biscoitos de todo o jeito. Que venham e que matem a saudade e saciem a vontade desses sabores e ofícios de outrora...

O dizer num embrulho de um presente de que muito gostei. Obrigada, Paula e Miguel, não podiam ter escolhido melhor! Já provei a marmelada e os biscoitos, hoje talvez adormeça com um chá de lúcia lima com perpétua roxa. Como agradecimento, aqui vai uma das pirosas para o Miguel cantar à sua niña...
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(Pedro Guerra y Silvio Rodriguez - Niña)

pero no dejes
de ser la niña
que abraza
todo lo que hay en si,
pero no dejes de ver el mundo
como un espacio por compartir
Nota: Ana, vou bater o teu recorde de pôr Pedro Guerra no blogue.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Falavam-me de amor

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.

O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
(Natália Correia, in O Dilúvio e a Pomba)

sábado, 8 de dezembro de 2007

This is my message to you

Para me consolar quando não consegui fazer as azevias, apesar de ter dado uma bela compota de batata-doce... e porque a voz é da minha irmã Ana e adoro ouvi-la cantar... Qual é que é a tua mensagem para mim?

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... saying, this is my message to you: don´t worry about a thing cause every little thing is gonna be alright ...

Have yourself a merry little Christmas by Melua

Era para ser um dia destes, mas passa a ser hoje, como prometi no sem-se-ver:




Nota: Esta melodia faz parte da banda sonora da minha manhã nas artes da culinária. Ainda a tentar fazer azevias de batata-doce.

P.S. : Ana, esta é para ti, porque sei que gostas da Melua e mereces uma musiquinha de Natal! Guardo uma azevia para ti.... um beijinho.

Experiência culinária

O que vou tentar fazer hoje, apesar de as más línguas dizerem que não vou conseguir...

Nota: Para quem não percebeu, são azevias de batata-doce...

E já agora uma música da quadra...

Cais solidário

A Ajuda de berço, que acolhe crianças dos 0 aos 3 anos, necessita da nossa ajuda. É um site que vive da publicidade que faz e são as empresas que o patrocinam que ajudam esta associação.
Basta visitar o site, o que demora menos de um segundo e clicar no botão "UM COLO PARA CADA CRIANÇA", clique
aqui.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

If you... I would...

Porque era o que estava a dar no Claras em Castelo e era mesmo o que me apetecia ouvir... A voz de Katie Melua é encantadora e este vídeo é maravilhoso.




If you're a cowboy I would trail you,
If you're a piece of wood I'd nail you to the floor.
If you're a sailboat I would sail you to the shore.
If you're a river I would swim you,If you're a house
I would live in you all my days.
If you're a preacher I'd begin to change my ways.

Upside Down Christmas Tree


O verdadeiro espírito natalício...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Poemas de Natal (I)

NATAL À BEIRA-RIO

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra. Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

(David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Micro-narrativa (I)

(Muchacha en la ventana - Salvador Dali)

'Pela tela, pela janela' e pelo mundo que vejo no teu olhar, espelho do longínquo horizonte, enquanto adormeço abraçada ao teu canto de cisne. Desejos de me outrar em ti, para que me ames só a mim, sempre diferente, sempre outra, mas só a mim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cais das codornizes (V)


Durante esta quadra natalícia, o Cais das Codornizes só vai passar música de Natal. Às vezes é difícil escolher apenas duas versões, mas vai ser bom partilhar este gosto musical. Estas músicas que só ouvimos em Dezembro têm o condão de criar um cenário maravilhoso, por vezes até parece que neva... vamos lá à primeira, muito especial, habitualmente cantada a duas vozes, as nossas, em viagens de carro, estrada fora. Winter Wonderland cantada pela Macy Gray no Cais e pelos Eurythmics no codornizes.
Gone away is the bluebird,
Here to stay is a new bird
He sings a love song,
As we go along,
Walking in a winter wonderland

En Navidad...

Para mim já é Natal. Finalmente chegou, apesar de nas ruas se andar a dizer que já é Natal há mais ou menos dois meses. Para mim começou no Sábado, dia 1. Gosto do Natal, sou daqueles espíritos que se deixa contagiar por tudo aquilo que o Natal tem de bom: os doces, bolos, salgados e fritos, o peru e o bacalhau, a árvore recheada de enfeites e luzes coloridas, um banco em frente à lareira a escrever postais, calendários de chocolate, presépios vários que se vão coleccionando, na esperança de ter um dia daqueles meticulosamente encenados... com lagos e muitos pastores, músicas de natal nas vozes de coros de anjos, concertos nas igrejas aquecidas por essas vozes, um coração aberto a todos, um espírito natalício impossível de não me fazer feliz e uma vontade de o espalhar por todo o mundo.
Para que todos los días sean Navidad
para que cada deseo se haga realidad
para que el mundo sonría al despertar
para que se abra la puerta y no se cierre más

(ROSANA e PEDRO GUERRA - EN NAVIDAD)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

'Tem sangue eterno e asa ritmada'

Acabei de receber um presente que andava há uns meses a namorar... e quando se namora muito, quando se quer muito, as coisas acontecem. Apareceu bem embrulhadinho e os livros, quando vêm embrulhados, são uma preciosidade. Mas que se rasgue o papel depressa e que se puxe de lá de dentro essa surpresa... e eis que era ela, a Antologia Poética de Cecília Meireles.
Inaugura assim...

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou se desfaço,
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno e asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Cais das codornizes (IV)


A proposta de hoje é Sisters of mercy, de Leonard Cohen. No codornizes, a versão original, n'o meu cais, uma interpretação céltica de Sting com os Chieftains.

Recordando o Galeto

Mais de um ano depois, voltei a entrar no Galeto, voltei a sentar-me no mesmo lugar e a comer a mesma coisa: sopa de tomate gratinada e uma dose de batatas fritas. Pela minha cabeça passearam-se as memórias dos Domingos ali passados a jantar com o Avô. Quase que revi inteiramente cada um de nós, ali sentado. As omoletes com batatas fritas e o melhor esparregado do mundo. O pão em tostas pequenas e cheio de patê de sardinha e de atum. O gelado de pistachio e um número infinito de Coca-Colas. O jantarmos todos juntos, memórias de uma infância feliz. Seguiam-se os passeios pelos túneis da Avenida: do Campo Pequeno ao Grande, sempre em alta velocidade, para fazer borboletas na barriga, fazendo-nos rir sem parar... para um lado e para o outro, uma e outra vez e mais outra!

Mais tarde, já era depois das noitadas que nos encontrávamos ali, com o Avô, que nunca deixou de ter idade para lá estar até fechar. Lembro-me do sorriso com que nos recebia, mesmo sabendo que, naquele dia, a conta iria quadriplicar, mas tínhamos direito a pedir tudo... e lá vinham o bitoque, a sopa, as batatas fritas, as imperiais...

Hoje voltei lá, depois de uma noitada, depois de um concerto da Teresa Salgueiro. No caminho de casa, fiz marcha atrás e soube, imediatamente, que tinha de voltar ali, porque é um sítio tão especial, tão meu. Estava cheio, mas os nossos lugares ainda estavam vazios, como que à nossa espera... sentámos e recordámos... o Avô, os serões ali passados, as conversas que tivemos, mas houve uma coisa que me fez sorrir muito: a imagem daquele sorriso com que nos recebia! Muitos dizem que tenho um igual ao dele... nunca acreditei muito nisso, mas hoje, acho que estava igualzinho!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Dancemos pois...

Porque hoje o ia atropelando...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Estou com os azuis!

Estou com os azuis! e é esta a música que me vem à cabeça... ando assim entre a tristeza e a melancolia, a saudade e a realidade... Dizem que isso passa com abraços! Estou, como se diz, com a neura - tenho saudades do fim-de-semana, quero outro e quero mais; tenho saudades de almoçar fora a ver o mar e nunca mais chega amanhã; tenho saudades de ter saudades... Ai rotininha maldita...



Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim
(poema de Vinicius de Moraes, interpretado por Gal Costa e Tom Jobim)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Sol: o primeiro cubista do mundo

O que ando a ler?
O País do Carnaval, o primeiro romance de Jorge Amado. Um daqueles livros que começam com aquelas frases que nunca esqueceremos, mas foi poucos parágrafos mais à frente que descobri um excerto que me apaixonou e que até agora não me deixou largar o livro...

Já descrera da felicidade. No fundo, entretanto, Paulo Rigger sentia que era um insatisfeito. Compreendia que faltava qualquer coisa na sua vida. O quê? Não o sabia. Isso torturava-o. E dedicava toda a sua vida à procura do Fim.

“Sim, murmurava no tombadilho, olhando as ondas, porque toda vida deve ter, necessariamente, um Fim... Qual?”

Mas o mar, indiferente, não lhe respondia. O sol que morria desenhava no horizonte paisagens berrantes. O sol foi o primeiro cubista do mundo...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Um Domingo

Um Domingo
Passar um fim de semana em Lisboa é um acontecimento! Como tal, começa desde sexta-feira o frenesim para disfrutar de tudo. Palmilhar as ruas sem a pressa semanal, sem a agitação e sem movimentos alucinantes de carros e pessoas que não passeiam, mas correm sem parar, de um lado para o outro, e de novo para um lado.

Sábado: acordar tarde, saber que se pode dormir sempre mais e que lá fora nada nem ninguém nos espera. Não há pressa, apenas a alegria de ficar a ler, a preguiçar... ou a adormecer entre duas torradas.

Ontem foi Domingo e acordei desejosa de tomar o pequeno-almoço em Sintra! Foi mesmo a primeira coisa que me passou pela cabeça. Desejo de sentir aquele frio da serra, aquele nevoeiro matinal, aquele cheirinho e o sabor dos travesseiros. Passear pelas ruas, por entre as árvores, por baixo delas e ter a certeza de que é Outono. Amareladas, encarnadas, acorderosadas... Passear por entre as ruas e subir até Seteais, só para ver a paisagem enquadrada naquela moldura que nos parece sempre nova, sempre diferente!

Ontem foi Domingo e as ruas de Sintra estavam enevoadas pelos assadores de castanhas, as pessoas riam e conversavam, andavam em passo de passeio e deambulavam por ali, como se nas suas cabeças também os pensamentos deambulassem, sem norte, sem ritmo, apenas ao ritmo de um Domingo que ainda tardava em acabar. Passear pela serra até Cascais, ir vendo o mar em cada curva, passar no Guincho, onde a areia sempre varrida estava pontilhada de surfistas e banhistas corajosos, junto de um mar que de tão verde me fazia lembrar uns olhos, com uma espuma branca, branca de pureza inicial, coberto por um céu, abóbada azul onde se faziam erguer papagaios de papel. Nele ainda havia um sol de fazer cerrar os olhos e de deitar lágrimas ao canto.

Um dia perfeito de Outono, em que o sol veio visitar o vento e o frio, a neblina e o nevoeiro e que, ao fim da tarde, se despediu de nós numa janela do Restelo, onde lá ao fundo se pôs no rio. Há dias em que sabemos que vamos ser felizes... fomos!

Amor é síntese

Sem mais palavras... para quê?

AMOR É SÍNTESE

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
(Mário Quintana)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tomás no Musicais

Ontem fui ao Musicais, no Jardim do Tabaco, para ouvir cantar o Tomás, o Miguel e o Filipe. Foi lindo. Não via o Tomás há mais de quatro anos e confesso que adorei reencontrar aquela voz, cada vez mais madura, mais maleável e encantadora, e aquele amigo divertido, simpático, com um sorriso encantador! O reportório foi fenomenal, as vozes e os acompanhamentos muito bons e, sobretudo, divertidos - como é possível estar com aquela descontração em palco? A diversão de cantar Surfin' USA (Beach Boys) e a beleza da voz do Tomás a cantar o Eu sei de Sara Tavares... Aquelas músicas fizeram-me lembrar tempos antigos de guitarradas e cantorias, num terraço virado ao mar na mais linda praia da terra portuguesa, momentos esses muito especiais e que recordo com imensa saudade e desejos de bis!

As minhas preferidas? Dois clássicos especiais: I just called to say I love you, do Stevie Wonder, porque a cantava muitas vezes ao telefone, e You've got a friend, de Carole King, porque me lembrou o Vasco, que me cantava sempre esta música.

Parabéns Tomás, lá estaremos para a próxima!


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Há sempre mais

Quando há coisas que me deixam triste...

uma manhã que nasce muito escura,
em que faz demasiado frio,
chove a cântaros e eu não tenho guarda chuva,
quando quero dormir e não consigo,
tenho fome,
quero estar sozinha, mas não há espaço,
tenho sono e ainda falta tanto para chegar a hora de ir para a cama,
preciso de alguém que me oiça sem perguntar,
tenho sono, mas tenho de acordar,
é de noite e ainda não sõ horas de jantar,
quero mais e não há...


Há coisas que me fazem muito feliz...
uma música alegre,
um saco de água quente acabadinho de preparar,
alguém que me ofereça abrigo e me convide para tomar chá,
que me cantem baixinho uma música... a Sofia vai dormir, a Sofia vai nanar!
que me ofereçam um ovo Kinder,
um vislumbre de um pôr-do-sol,
um ombro onde deitar a cabeça por uns instantes,
um amigo/a que me faça rir e dizer disparates,
um pequeno-almoço doce, na cama,
ir ver o mar de Inverno muito branco e brilhante ou ir ver o rio lá de cima,
mais? há sempre mais...

NOTA: A quem realiza os meus desejos quase todos...

Does anybody know what we are looking for?

OBITUARIO

Muere el coreógrafo francés Maurice Béjart, gran divulgador de la danza contemporánea. Su compañía, Ballet del siglo XX, llevó esta arte al gran público.- Ha fallecido a los 80 años en Lausana, Suiza (in EL País)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Je ne suis jamais seul avec ma solitude

E porque esta era a música que queria pôr hoje, porque de manhã me chegou este poema de Miguel Torga ao e-mail e lembrei-me logo do Moustaki. Obrigada, J.




Como nunca vieste, já não venhas.
O mais rico tesouro é o que se nega.
Ágil veleiro doutros mares, navega
Com as asas que tenhas!
Foge de ti, porque de mim fugiste.
Alarga a solidão que me consome.
E apaga na memória a praia triste
Onde eu pergunto às ondas o teu nome.
(Coimbra, 6 de Março de 1952)

Le facteur

Porque há comentários que merecem ser entradas...

Huckleberry Friend deixou um novo comentário na sua mensagem "Saudade de uma carta com caligrafia":

Reina, reina, quantas cartas, quantos postais, por vezes perdidos ou nunca enviados, vão aparecendo nas gavetas e nos caixotes por arrumar (ainda que a maioria esteja impecavelmente catalogada)? Não me canso de relê-las, de escrevê-las, umas para meter no correio, outras para deixar, discretamente, onde sabemos que o destinatário não pode deixar de encontrá-las... Não tenho, ao contrário do Manel, grande razão de queixa dos correios... queixo-me, como todos, da falta de cartas bem caligrafadas, por vezes com uma mancha de café ou uma paisagem desenhada ao canto. E o tempo, Manel, em que o carteiro era o único elo de ligação entre dois amantes?
Mas deixemo-nos de lamúrias: fui, recentemente, visitado por um carteiro inesperado e de identidade misteriosa. O breve telegrama que me cantou foi um bálsamo num dia não, quase como o Moustaki (linque acima) a cantar-me ao ouvido. Beijinhos!


Le jeune facteur est mort
Il n'avait que 17 ans
L'amour ne peu plus voyager, il a perdu son messager
C'est lui qui venait chaque jour
Les bras chargé de tous mes mots d'amour
C'est lui qui portait dans ces main
la fleur d'amour cueillie dans ton jardin
Il est parti, dans le ciel bleu
Comme un oiseau enfin libre et heureux
Et quand son âme la quitté
Un rossignol quelque part à chanter
Je t'aime autant que je t'aimais
mais je ne peu le dire desormais
Il à emporter avec lui
Les derniers mots que je t'avais écrit
Il n'iras plus sur les chemin
Fleuris de rose et de jasmin
Qui mènent jusqu'à ta maison
L'amour ne peu plus voyager
Il a perdu son messager
Mais mon coeur est comme en prison
Il est parti l'adolescent
qui t'aportait mes joix et mes tourments
L'hiver a tué le printemps
Tout est fini pour nous deux maintenant

NOTA: Depois de publicada, esta entrada tornou-se parte de um "Cais das Codornizes" involuntário. Aqui, pusemos Moustaki a tocar ao vivo. Já o codornizes preferiu a versão de estúdio.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Saudade de uma carta com caligrafia

Ainda há pouco tempo, passei horas a reler as cartas antigas que recebi! Foi como regressar ao passado em pedaços de papel. Relembrar histórias, amigos, amores antigos. Hoje, já quase não recebo cartas, apesar de ainda enviar algumas. Recebo alguns postais de tempos a tempos, de quem está longe ou vai passar uns dias longe. Eu gosto de escrever cartas e de mandar postais, de desenhar a caligrafia muito perfeitinha para se poder ler. De dizer onde estou, como está o tempo e contar as novidades o que vi, o que fiz, o que quero fazer! Tenho saudades dos tempos em que os postais de Natal eram imensos e se impunham em fila, em cima da cómoda, até ao dia de Reis. Gosto de escrever cartas a quem vive comigo ou mesmo a quem vive perto... Por isso gostei tanto deste excerto do livro que estou a ler (mesmo a acabar) do José Eduardo Agualusa - O Vendedor de Passados. Quem sabe não vai alguém, um dia, vender o meu passado perdido aí nessas cartas que escrevi e recebi? Espero que não...

«Meu bom amigo,espero que esta carta o encontre de excelente saúde. Bem sei que não é exactamente uma carta isto que lhe escrevo agora, mas uma mensagem electrónica. Já ninguém escreve cartas. Eu, sou-lhe sincero, sinto saudades dos tempo em que as pessoas correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as líamos, e do cuidado com que, ao responder, escolhíamos as palavras, medindo-lhes o peso, avaliando a luz e o lume que ia nelas, sentindo-lhes a fragrância, porque sabíamos que seriam depois sopesadas, estudadas, cheiradas, saboreadas, e que algumas conseguiriam, eventualmente, escapar à voragem do tempo, para serem relidas muitos anos depois.»