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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Micronarrativa (VIII)


O Beijo, de Constantin Brancusi, em 1910


É em ti que penso quando chega a hora de sonhar e acabo por sonhar connosco. Lembro com a inspiração por entre suspiros, o toque do teu cabelo macio que quando deslizava a meu lado, fazia arrepios. É a tua pele morena que se estrelaça entre os meus sonhos de marés vivas, e os teus olhos azuis que me iluminam o caminho do sonho. Vem ter comigo, mesmo que seja só em pensamento. Abraça-te a mim. Senta-me a teu colo e deixa-nos ser madrugada.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Micronarrativa (VII)


Éramos manhã e éramos nós.

Na ponta da ponte junto ao rio, onde o barco nos esperava.


Na outra margem, o ontem a que haviamos de regressar e o pesadelo de sentir sobre nós esse fim.

Éramos manhã e éramos nós mas, para lá da margem de aqui, seremos eu e tu, num mundo onde os nossos pedaços não se poderão entrelaçar.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Não fique triste assim...

- Não, não é de ti, mas de mim. Nos dias em que me sorris e abraças, me apertas fundo e me guardas no corpo, é como se cantasses para mim. Nos dias em que acordo triste, sem forças, são as tuas que me carregam e me põe no ar, a pairar. Fico ali horas sem fim, esperando que voltes para me buscar, para me levar de novo aos braços onde quero dormir. Já passou mais um dia.




Sente o céu, repara o mar
Há muito mais pra eu te mostrar
Não chore não, não fique triste assim

Eu te amo tanto que teu pranto
Fez-se canto pra mim
Sorria por favor, tenha esperança

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Micro-narrativa (VI)

Sea serpents IV (detail), Gustav Klimt


Quero-te como quem se quer a quem se ama. Nas madrugadas em que te vais depois de nós, fica comigo o que restou de ti – teu cheiro, o calor na cama e parece que ainda sinto as tuas mãos percorrendo o meu corpo. Na cama fico apenas eu, para lá de uma porta fechada de mansinho para que doa menos a tua partida, e ainda os vestígios de um beijo doce no rosto que já dorme:

- Promete-me que para a próxima vais ficar para amanhã!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Micronarrativa (VI)

(Baleal - fotografia de PC)

Fica ancorado em mim! Solta o teu corpo e desce ao cais do desejo, onde o limite é o nada. Desenha com teus dedos em meu corpo o mapa dos nossos sentidos e deixa conhecer-nos, percorrer-nos como se fossemos país sem fronteiras, mar de infinito horizonte. Revela-me o segredo deste amor, onde a pátria é um só corpo e os teus olhos verdes o alto mar.




(Kátia Guerreiro – Ancorado em Mim - Poema de Ana Vidal)

Foste o mar e o veleiro
muito mais que o mundo inteiro
Ficaste ancorado em mim

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Micronarrativas (V)

Quando me calo e me perco no silêncio, meus olhos voam para outras paisagens, outros mundos perdidos. Sei que gostas de me olhar assim, perdida em mim, abandonada aos sons e aos ritmos que rodeiam um eu que se soltou! Sentada à beira-mundo, numa pedra das muitas, olho o mar, o horizonte e o infinito. Perco-me lá longe, em alto mar, ao sabor das ondas que me balançam e navego de olhos abertos. Regresso a nós chamada pelos teus olhos verdes e teus dedos morenos que penteiam meus cabelos rebeldes ao vento. Sei que só tu conheces as viagens dos meus silêncios, a que chamamos melancolias.



(recitado por Alejandro Sanz)

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía;

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda in Cien Sonetos de Amor

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Micronarrativa (IV)


Saudade de um beijo e do desejo de um beijo. Saudades de ti e do teu corpo envolto no meu. Braços grandes e quentes, concha onde durmo, cabelos enredados nos meus, compridos de sereia azul, filha da maresia e da manhã quando acordas ao meu lado. Doce abraço, o teu, no meu, anjo caído em brancos lençóis onde o amor acorda e sussurra:
- Saudade.



(Mafalda Arnauth - Talvez se chame saudade)

Este doce recordar
Que amargamente me invade
Talvez que não tenha nome
Talvez se chame saudade.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Micro-narrativa (III)


A nossa casa, Amor, a nossa casa!, é um poema de Florbela Espanca que tem servido de mote a muitas conversas e a alguns poemas. Hoje, dá início a uma Micro-Narrativa que foi comentário aqui.


A nossa casa, Amor, pode ser numa árvore, pode ser à beira-mar, pode ser num barco em alto mar. Mas a morada do Amor é sempre um coração apaixonado! É o teu dentro que só eu conheço, é o suspiro do desejo que desenha os alicerces e cria raíz. A nossa casa, Amor, é feita dos braços e dos abraços dos nossos corpos, entrelaçados em telhado, protegendo das intempéries que possam vir. Abraça mais, para a chuva não entrar; abraça mais, para o vento não deitar nada abaixo! A nossa casa, Amor, somos nós, construída pelas chamas do Amor entre dois sopros do respirar.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Micro-narrativa (II)

(Mar do Baleal - FL - 09/05/2003)


Quem me dera ser onda, enrolar-me na areia, soltar-me do ar e morrer para renascer a cada instante. Ser sempre nova e renovada, feita de matéria outra a cada instante e ter cada gota de água por amante. Ser feroz nos dias cinzentos, soltar as amarras e lançar-me contra as rochas, para me dividir e multiplicar. Ser pairar nos dias felizes, quando o azul do céu é azul em mim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Micro-narrativa (I)

(Muchacha en la ventana - Salvador Dali)

'Pela tela, pela janela' e pelo mundo que vejo no teu olhar, espelho do longínquo horizonte, enquanto adormeço abraçada ao teu canto de cisne. Desejos de me outrar em ti, para que me ames só a mim, sempre diferente, sempre outra, mas só a mim.