Faça um polme com farinha, água, sal e um ovo. Bata muito bem. Arranje o feijão-verde, não o corte e passe-o por este polme, de todos os lados. Frite em azeite bem quente.
Quase tão fascinante como a viagem em si é o planear da viagem. Andamos com borboletas na barriga até chegar o grande dia e quase não dormimos de véspera. Consigo manter a ansiedade que tinha em miúda, o contar dos dias, riscando os que já passaram no calendário. E posso passar horas a pesquisar sobre o destino. Acho que aprendi essa´arte' com o meu pai e com o meu avô! Não sou tão pouco flexível como eles, mas quase tão organizada. Aprendi de miúda, nas viagens de Verão e de Inverno, de carro, os cinco, a conhecer Portugal e Espanha! Uma história aqui, um museu ali, uma Sé acolá, sempre com datas, lendas! Eram estafantes, mas hoje sabemos que valeu a pena e temos saudades!
A alegria de um dia como o de hoje - em que se toma a decisão, marca-se o dia e os destinos e começa-se a pesquisa - é inexplicável, mesmo quando a paragem final é mesmo aqui ao lado!
O próximo destino será a Andaluzia, na Espanha da minha paixão. O pretexto é um concerto em Cádis, mas mais dias serão para poder rever paraísos, reencontrar sabores, paisagens e descobrir novos portos de abrigo. As viagens por Espanha têm sempe o sabor de 'saltimbanco louco' e o ritmo alucinante de quem não quer perder nada. Nas noites que antecedem os passeios são folhas A4 espalhadas pela cama, numa organização de roteiros gastronómicos, passeios a não perder e histórias a saber. Voltamos cansados, mas refeitos, depois de uma viagem de descoberta. A juventude ajuda a que as noites sejam longas e os dias muito preenchidos. Paragens nas paisagens que ficam na memória, como quando uma nuvem desenhou uma gaivota num pôr-do-sol em Monfragüe. Paragens no cimo dos montes, nas pousadas dos parques naturais, para um chá que aquece a alma e dá força para uma légua mais, nas esplanadas das Plazas Mayores, para um café que nos dá saudades de Portugal ou para umas tapas que nos caem sempre bem, num merecido descanso num banco de jardim, em faróis no fim do mundo a contemplar o mar que desenha só para nós um cenário de paraíso e nas praias onde quase nunca é Verão e que são, quase sempre, só nossas!
Levamos a casa às costas, a literatura por companhia e a força de quem quer ver mais e mais. Desta vez, levo a ansiedade de uma noite de concerto, desejos de gelados de leite condensado no Rayas, em Sevilha, das patatas bravas em nada iguais às tradicionais, mas maravilhosas, em El Puerto de Santa María, rodeadas de muito marisco fresco e de peixes maravilhosos, reencontros com as memórias de um passeio frio, ao fim de uma primeira tarde de Dezembro na Baía de Cádis, ou de uma estátua de Albertí, de quem comprei, depois, uma memorável antologia, em jeito de primeira cumplicidade.
Falta pouco menos de um mês, mas já entrei em contagem decrescente!
Galope Las tierras, las tierras, las tierras de España, las grandes, las solas, desiertas llanuras. Galopa, cabbalo cuatralbo, jinete del pueblo, al sol y a la luna.
! A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar!
(...) (Rafael Alberti in Capital de la Gloria, 1936/38)
(Pedro Guerra - Contamíname)
Nota: Dedico esta entrada à Madrinha, que me apresentou este 'cantautor', pretexto da minha romaria!
A noite foi longa e dançarina, numa pista ao vivo. Êxitos de sempre cantados a todas as vozes, dançados num enrola e desenrola de corpos bailarinos de uma noite. Começou assim...
Dizias-me que voltaste ao surf porque tinhas saudades de voar nas ondas. E eu, que tenho medo desses voos, fui ver os teus. Ainda me tentaste levar contigo, mas eu preferi ficar a voar ao vento, no cimo da rocha, que em tempos me pareceu demasiado alta. Fui ver-te ao mar que desde sempre me abraçou e que a ti não te abraçava há muito. Tens saudades, não tens?
Sentei na rocha, de cabelo solto e de braço dado com os joelhos, oscilando entre um perder-te e reencontrar-te nas ondas do mar. Dizias-me adeus, entre duas ondas enroladas de um branco-luz. Sei que sorrias, apesar de não ver o teu sorriso, mas imaginava-o. Onda após onda, adivinhava o teu deslizar, a tua dança, para cá e para lá que terminava num deixares-te cair depois de uma onda acabada de desenrolar...
Outras vezes, quem me perdia era eu, por entre pensamentos que nem lembro quais de tão perdida que estava. Foi num desses meus voos de olhar perdido no horizonte, que me apanhaste, quando chegaste num abraço molhado e frio, de um mar que nem num voo aquece. Mas afinal, que quente me soube o teu abraço!
Agora via-te sorrir com uns lábios carnudos por entre a barba escura, salpicada de gotas de sal luzidio. Eu devolvia o sorriso, enquanto aterrava ao teu lado, num regresso à rocha e à terra.
A minha sala e a minha cozinha são os meus salões de baile favoritos, onde a pista está sempre aberta até altas horas da madrugada e a música varia conforme os amores e os humores! Esta não deixa de me contaminar e foi uma das primeiras que ouvi, mal começou 2008, acompanhada de uma boa ginjinha caseira, numa pista à beira-mar. É só ganhar balanço, que a dança nasce... 'A dança' - Matisse
Contamíname, pero no con el humo que asfixia el aire ven, pero sí con tus ojos y con tus bailes ven, pero no con la rabia en los malos sueños ven, pero sí con los labios que anuncian besos.
Contamíname, mézclate conmigo que bajo mi rama tendrás abrigo, contamíname, mézclate conmigo que bajo mi rama tendrás abrigo.
De todos os cantos do mundo Amo com um amor mais forte E mais profundo Aquela praia extasiada e nua Onde me uni ao mar,ao vento e à lua (Sophia de Mello Breyner Andresen)
Amanhã por estas horas já estarei na minha praia, a ver o meu mar da varanda virada ao vento. Ainda não fiz as malas, mas sei tudo aquilo que tenho de levar para gastar os últimos cartuchos de 2007 e receber com alegria e muito champanhe o 2008.
Os patins em linha para estrear e, quem sabe, começar o ano com o pé direito; as camisolas de gola alta, muitas, para vestir todas de uma vez, os cachecóis mais compridos e mais quentinhos que nunca uso, para enrolar ao pescoço, as mantinhas todas que andam espalhadas pela minha casa, à espera que eu as apanhe para me aninhar em qualquer cantinho a dormir ou a ler, os sacos de água quente (as minhas meninas, como lhes chamo!), a almofada com buracos para os pés para que estejam sempre quentinhos, as meias até ao joelho e os pés de meia, os gorros que levei a Londres e nunca mais usei, os casacos quentinhos e as luvas, os aquecedores, a chaleira eléctrica e muitas saquetas de chá para nos aquecermos, as minhas caixinhas de música para me embalarem, o mp3 para poder ouvir, cantar e dançar e o monte de livros que está na minha cabeceira, para ver se os leio de uma vez.
Acho que vai ser assim quentinho o meu fim de ano, na minha praia, no meu mar, com os meus amigos e com os meus olhos verdes preferidos. Ouvi dizer que por lá o sol tem andado muito simpático, mas não quero acreditar nessas histórias... eu quero o frio e o Inverno, para poder ficar aninhada num colo, dar abraços quentinhos e receber beijinhos doces.
BOM ANO DE 2008 CHEIO DE SAÚDE, SONHOS, AMOR, PAIXÃO, POESIA, MÚSICA, DANÇA E MUITA VIDA...
A todos um Bom Natal, com a música When a child is born, cantada por Charles Aznavour, Plácido Domingo, Sissel Kyrkjebo e Josep Carreras, no codornizes, e pelo Saint Philips Boys Choir, no Cais.