segunda-feira, 29 de setembro de 2008


Adormece aqui.


Vem de mansinho deitar-te a meu lado, cai em meus braços largando pedaços de beijos e mar. Deixa vir o sol, que nos aquece e o vento que nos enlaça na calmia da maré. Deixa ser o dia qualquer que vai chegar, deixa ser manhã, para adormecermos de novo entrelaçados.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ainda a pensar no verão...

Apesar de o Outono ter chegado, ainda guardo os desejos das tardes quentes de verão, dos passeios à beira-mar e de um pôr-do-sol que não me canso de reinventar.


Our last summer

1800

Pastelaria 1800 - Largo do Rato, Lisboa


Já não bastava já não podermos ter a tua casa como companhia dos jantares de Domingo - onde o teu lugar estaria sempre reservado, à espera que nos contasses a idade da terra ou as histórias da História -, ainda te mudaram a casa onde almoçavas.

Já lá vão quase dois anos e nunca mais consegui ali entrar.

Sempre que passava à porta, espreitava a ver se lá estarias de pé, ao fundo do balcão, a almoçar pão com queijo, um croquete e água. Mas, como nunca mais te vi, nunca mais entrei. Nunca mais parei para comprar um gelado, comer um bolo ou até tomar café. Já passaram dois Natais e nunca mais lá voltei para as azevias de batata doce. Tu não estavas, eu não entrava.

No outro dia, decidi que era hora de lá ir. Ocupar o teu lugar e pedir o que me apetecesse. Mas estava fechada para obras. Ironias da vida, esperara a minha coragem e fechara na véspera. Esperei que reabrisse, sem grande curiosidade de ver a casa nova. Hoje, porém, deram-me coragem e lá fui. Olhei primeiro, para ver se estavas. É um hábito que todos temos, sabias? Olhamos sempre à espera que lá estejas. Mas o teu sítio já não está lá, o balcão já não faz curva. Cheguei-me mais à ponta, esperei que o mesmo senhor de sempre me viesse servir e olhei à volta - já não era nossa casa! Café, só café e uma vontade de sair dali. Deitaram paredes abaixo, mataram-lhe os espíritos que por lá andavam e, com eles, o teu. Não sei se ainda hei-de procurar-te quando lá passar, não sei se hei-de esperar ver-te, se hei-de parar para um gelado dos mais caros... valeu a companhia de muitas das nossas conversas de almoço e a surpresa de um travesseiro à minha espera.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

OUTONO

Nem parece que ele chega agora...


Por montes e vales, ravinas e prados
Ressoa o pranto da terra
Em despedida do verão ameno.

Que mais podem fazer os altos ramos
Das frondosas árvores?

E como pode o pranto cessar?

Thomas Nicholson
(Tradução de José Domingos Morais )

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Preguiça de voltar


Voltei de férias, mas a cada fim-de-semana ainda volto à ilha, para acordar com o burburinho do mar.

Regressei cheia de preguiça e anseio pelas tardes de sexta-feira, em que parto sem dor para longe do rebuliço desta cidade.

Quero ficar longe, na acalmia, deixar-me perder horas sem fim entre mergulhos e marés.

É esquecer que a nortada impera e esconder-me numa Praia das Cebolas, abrigada do vento, povoada de rochas que teimo em saltar, sem nunca cair. É sentar na rocha desenhada como um banco e esperar que a onda venha salpicar-nos.

É acordar cedo, mesmo quando a noite foi até ser dia, e deixar-me levar para a praia, adormecer num colo, numa barriga e esperar que a minha me acorde a dar os bons dias.

É ficar a ver a maré descer e subir, como se as horas não passassem por nós, como se mais nada importasse... e, realmente, nada mais importa.

É esperar o pôr-do-sol e ir vê-lo na esplanada, porque ele já se põe para lá da Papoa. Esperar que a noite caia, por um jantar de muitos. Adormecer de cansaço e acordar refeito, horas depois, para mais uma dança, mais uma tosta, gargalhadas. E, quando já for quase dia, partir em busca de um petisco para uma barriga ainda enérgica, quando as pernas já não aguentam mais.

É chegar a casa, deitar e adormecer... umas horas, poucas, que lá fora o sol já nasceu e com ele, o mar, a areia e os sorrisos de quem nos espera à beira-mar.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Regresso a casa


mas ainda sinto no ar um desejo de ficar na ilha, de atravessar o mar e entrar no pôr-do-sol.

São sempre assim as últimas tardes, na praia até o sol desaparecer atrás das casas e nós todos corrermos para trás delas em busca dos raios que ainda restam. Esperar que a noite caia e esquecer o frio, o vento norte, a humidade que teima em cair. Sentar na rocha e esperar só que aquele momento eterno acabe e nos leve a casa, ao trabalho, ao mundo...

E ficar entre as recordações do marisco dos últimos dias, os últimos mergulhos como se não mais houvesse mar, os desenhos na areia a eternizar desejos, as toalhas já duras de tanto sal e os corpos dourados de quem foi quase peixe no mar, os beijos e abraços de despedida que em tempo nos levavam às lágrimas, um 'até para o ano', 'vemo-nos por aí'... ficam a saudade e a certeza de que voltaremos outra vez!

Chegou Setembro.