Ainda há pouco tempo, passei horas a reler as cartas antigas que recebi! Foi como regressar ao passado em pedaços de papel. Relembrar histórias, amigos, amores antigos. Hoje, já quase não recebo cartas, apesar de ainda enviar algumas. Recebo alguns postais de tempos a tempos, de quem está longe ou vai passar uns dias longe. Eu gosto de escrever cartas e de mandar postais, de desenhar a caligrafia muito perfeitinha para se poder ler. De dizer onde estou, como está o tempo e contar as novidades o que vi, o que fiz, o que quero fazer! Tenho saudades dos tempos em que os postais de Natal eram imensos e se impunham em fila, em cima da cómoda, até ao dia de Reis. Gosto de escrever cartas a quem vive comigo ou mesmo a quem vive perto... Por isso gostei tanto deste excerto do livro que estou a ler (mesmo a acabar) do José Eduardo Agualusa - O Vendedor de Passados. Quem sabe não vai alguém, um dia, vender o meu passado perdido aí nessas cartas que escrevi e recebi? Espero que não...
«Meu bom amigo,espero que esta carta o encontre de excelente saúde. Bem sei que não é exactamente uma carta isto que lhe escrevo agora, mas uma mensagem electrónica. Já ninguém escreve cartas. Eu, sou-lhe sincero, sinto saudades dos tempo em que as pessoas correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as líamos, e do cuidado com que, ao responder, escolhíamos as palavras, medindo-lhes o peso, avaliando a luz e o lume que ia nelas, sentindo-lhes a fragrância, porque sabíamos que seriam depois sopesadas, estudadas, cheiradas, saboreadas, e que algumas conseguiriam, eventualmente, escapar à voragem do tempo, para serem relidas muitos anos depois.»
4 comentários:
Pois é, hoje o carteiro só toca uma vez (quando toca...) e só nos deixa facturas na caixa do correio (quando deixa...) porque o correio deixou de ser serviço sério, deixou de ser serviço seguro, não chega a horas, e muita da correspondência nunca chega ao seu destino.
Mais um sinal dos tempos em que vivemos, sendo que a tendência tende a piorar...
Lembram-se quando CARTEIRO era profissão de vida inteira ?
Toquei... fugi... voltarei; mas digo-te que adoro cartas e manuscritas, têm outro sabor e trazem um pouco da personalidade de quem nos escreve.
Até breve.
Reina, reina, quantas cartas, quantos postais, por vezes perdidos ou nunca enviados, vão aparecendo nas gavetas e nos caixotes por arrumar (ainda que a maioria esteja impecavelmente catalogada)? Não me canso de relê-las, de escrevê-las, umas para meter no correio, outras para deixar, discretamente, onde sabemos que o destinatário não pode deixar de encontrá-las...
Não tenho, ao contrário do Manel, grande razão de queixa dos correios... queixo-me, como todos, da falta de cartas bem caligrafadas, por vezes com uma mancha de café ou uma paisagem desenhada ao canto. E o tempo, Manel, em que o carteiro era o único elo de ligação entre dois amantes?
Mas deixemo-nos de lamúrias: fui, recentemente, visitado por um carteiro inesperado e de identidade misteriosa. O breve telegrama que me cantou foi um bálsamo num dia não, quase como o Moustaki (linque acima) a cantar-me ao ouvido. Beijinhos!
Manel, infelizmente também me queixo... para o ritmo de vida que levamos as coisas demoram a chegar. Uma vez estive uma semana no Algarve e mandei em Correio Verde uma encomenda, chegou duas semanas depois de mim... não era suposto! Mas continuo a preferir escrever com a minha caligrafia feia... e adoro receber.
Myself... A caligrafia diz quase tudo, não é? Para quando as propostas?
Aqui vai a minha: quando o Natal se aproximar, prometo aos marinheiros que me mandarem morada para o e-mail eu enviarei um postal!
beijinhos a todos
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