
Voltei a estudar literatura. Andava com tantas saudades de pegar num livro, de fio a pavio, e de destrinçar as entrelinhas, as reticências e o que se esconde por trás de um poema, de um texto. Há dias, lá andava às voltas com Cecília Meireles, quando me perdi em interpretações, em leituras minhas, e senti a tal saudade. Peguei num lápis e comecei a rabiscar os versos, a escrever em letra miudinha ao lado deles e a construir uma nova realidade do poema aos meus olhos de agora. Perdi-me de encantamento.
Gosto de Cecília. Conheço os seus poemas de uma Antologia à qual tenho um carinho especial e de versos soltos que às vezes encontro. Pesquisei um pouco mais sobre a biografia, a sua vida de menina órfã desde cedo, de pai e de mãe. Por isso, desde logo criou uma certa 'intimidade com a Morte', como disse. Ganha com ela a plena consciência, própria dos poetas - o confronto do éfemero com o eterno, porque na vida tudo é transitório, tudo passa. Essa temática tão cara aos poetas de todos os tempos. Gosto da sua poesia transparente, da simplicidade do seu lirismo, que é, ao mesmo tempo, concretizado com enorme preciosismo. Ao lê-la, aproximamo-nos da poesia primitiva, pela sua pureza e espontaneidade.
E foi assim que peguei em livros e me pus a ler e me pus a estudar uma poeta que é autora dos mais claros poemas brasileiros.
Acho que a seguir vou voltar-me para a Sophia ou para Mário Quintana. Ainda não me decidi, mas sei que não vou deixar voltar a saudade!