sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Cais das codornizes (IV)


A proposta de hoje é Sisters of mercy, de Leonard Cohen. No codornizes, a versão original, n'o meu cais, uma interpretação céltica de Sting com os Chieftains.

Recordando o Galeto

Mais de um ano depois, voltei a entrar no Galeto, voltei a sentar-me no mesmo lugar e a comer a mesma coisa: sopa de tomate gratinada e uma dose de batatas fritas. Pela minha cabeça passearam-se as memórias dos Domingos ali passados a jantar com o Avô. Quase que revi inteiramente cada um de nós, ali sentado. As omoletes com batatas fritas e o melhor esparregado do mundo. O pão em tostas pequenas e cheio de patê de sardinha e de atum. O gelado de pistachio e um número infinito de Coca-Colas. O jantarmos todos juntos, memórias de uma infância feliz. Seguiam-se os passeios pelos túneis da Avenida: do Campo Pequeno ao Grande, sempre em alta velocidade, para fazer borboletas na barriga, fazendo-nos rir sem parar... para um lado e para o outro, uma e outra vez e mais outra!

Mais tarde, já era depois das noitadas que nos encontrávamos ali, com o Avô, que nunca deixou de ter idade para lá estar até fechar. Lembro-me do sorriso com que nos recebia, mesmo sabendo que, naquele dia, a conta iria quadriplicar, mas tínhamos direito a pedir tudo... e lá vinham o bitoque, a sopa, as batatas fritas, as imperiais...

Hoje voltei lá, depois de uma noitada, depois de um concerto da Teresa Salgueiro. No caminho de casa, fiz marcha atrás e soube, imediatamente, que tinha de voltar ali, porque é um sítio tão especial, tão meu. Estava cheio, mas os nossos lugares ainda estavam vazios, como que à nossa espera... sentámos e recordámos... o Avô, os serões ali passados, as conversas que tivemos, mas houve uma coisa que me fez sorrir muito: a imagem daquele sorriso com que nos recebia! Muitos dizem que tenho um igual ao dele... nunca acreditei muito nisso, mas hoje, acho que estava igualzinho!

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Dancemos pois...

Porque hoje o ia atropelando...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Estou com os azuis!

Estou com os azuis! e é esta a música que me vem à cabeça... ando assim entre a tristeza e a melancolia, a saudade e a realidade... Dizem que isso passa com abraços! Estou, como se diz, com a neura - tenho saudades do fim-de-semana, quero outro e quero mais; tenho saudades de almoçar fora a ver o mar e nunca mais chega amanhã; tenho saudades de ter saudades... Ai rotininha maldita...



Vai, minha tristeza, e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade, a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai
Mas, se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim
(poema de Vinicius de Moraes, interpretado por Gal Costa e Tom Jobim)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Sol: o primeiro cubista do mundo

O que ando a ler?
O País do Carnaval, o primeiro romance de Jorge Amado. Um daqueles livros que começam com aquelas frases que nunca esqueceremos, mas foi poucos parágrafos mais à frente que descobri um excerto que me apaixonou e que até agora não me deixou largar o livro...

Já descrera da felicidade. No fundo, entretanto, Paulo Rigger sentia que era um insatisfeito. Compreendia que faltava qualquer coisa na sua vida. O quê? Não o sabia. Isso torturava-o. E dedicava toda a sua vida à procura do Fim.

“Sim, murmurava no tombadilho, olhando as ondas, porque toda vida deve ter, necessariamente, um Fim... Qual?”

Mas o mar, indiferente, não lhe respondia. O sol que morria desenhava no horizonte paisagens berrantes. O sol foi o primeiro cubista do mundo...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Um Domingo

Um Domingo
Passar um fim de semana em Lisboa é um acontecimento! Como tal, começa desde sexta-feira o frenesim para disfrutar de tudo. Palmilhar as ruas sem a pressa semanal, sem a agitação e sem movimentos alucinantes de carros e pessoas que não passeiam, mas correm sem parar, de um lado para o outro, e de novo para um lado.

Sábado: acordar tarde, saber que se pode dormir sempre mais e que lá fora nada nem ninguém nos espera. Não há pressa, apenas a alegria de ficar a ler, a preguiçar... ou a adormecer entre duas torradas.

Ontem foi Domingo e acordei desejosa de tomar o pequeno-almoço em Sintra! Foi mesmo a primeira coisa que me passou pela cabeça. Desejo de sentir aquele frio da serra, aquele nevoeiro matinal, aquele cheirinho e o sabor dos travesseiros. Passear pelas ruas, por entre as árvores, por baixo delas e ter a certeza de que é Outono. Amareladas, encarnadas, acorderosadas... Passear por entre as ruas e subir até Seteais, só para ver a paisagem enquadrada naquela moldura que nos parece sempre nova, sempre diferente!

Ontem foi Domingo e as ruas de Sintra estavam enevoadas pelos assadores de castanhas, as pessoas riam e conversavam, andavam em passo de passeio e deambulavam por ali, como se nas suas cabeças também os pensamentos deambulassem, sem norte, sem ritmo, apenas ao ritmo de um Domingo que ainda tardava em acabar. Passear pela serra até Cascais, ir vendo o mar em cada curva, passar no Guincho, onde a areia sempre varrida estava pontilhada de surfistas e banhistas corajosos, junto de um mar que de tão verde me fazia lembrar uns olhos, com uma espuma branca, branca de pureza inicial, coberto por um céu, abóbada azul onde se faziam erguer papagaios de papel. Nele ainda havia um sol de fazer cerrar os olhos e de deitar lágrimas ao canto.

Um dia perfeito de Outono, em que o sol veio visitar o vento e o frio, a neblina e o nevoeiro e que, ao fim da tarde, se despediu de nós numa janela do Restelo, onde lá ao fundo se pôs no rio. Há dias em que sabemos que vamos ser felizes... fomos!

Amor é síntese

Sem mais palavras... para quê?

AMOR É SÍNTESE

Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu...
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
(Mário Quintana)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tomás no Musicais

Ontem fui ao Musicais, no Jardim do Tabaco, para ouvir cantar o Tomás, o Miguel e o Filipe. Foi lindo. Não via o Tomás há mais de quatro anos e confesso que adorei reencontrar aquela voz, cada vez mais madura, mais maleável e encantadora, e aquele amigo divertido, simpático, com um sorriso encantador! O reportório foi fenomenal, as vozes e os acompanhamentos muito bons e, sobretudo, divertidos - como é possível estar com aquela descontração em palco? A diversão de cantar Surfin' USA (Beach Boys) e a beleza da voz do Tomás a cantar o Eu sei de Sara Tavares... Aquelas músicas fizeram-me lembrar tempos antigos de guitarradas e cantorias, num terraço virado ao mar na mais linda praia da terra portuguesa, momentos esses muito especiais e que recordo com imensa saudade e desejos de bis!

As minhas preferidas? Dois clássicos especiais: I just called to say I love you, do Stevie Wonder, porque a cantava muitas vezes ao telefone, e You've got a friend, de Carole King, porque me lembrou o Vasco, que me cantava sempre esta música.

Parabéns Tomás, lá estaremos para a próxima!


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Há sempre mais

Quando há coisas que me deixam triste...

uma manhã que nasce muito escura,
em que faz demasiado frio,
chove a cântaros e eu não tenho guarda chuva,
quando quero dormir e não consigo,
tenho fome,
quero estar sozinha, mas não há espaço,
tenho sono e ainda falta tanto para chegar a hora de ir para a cama,
preciso de alguém que me oiça sem perguntar,
tenho sono, mas tenho de acordar,
é de noite e ainda não sõ horas de jantar,
quero mais e não há...


Há coisas que me fazem muito feliz...
uma música alegre,
um saco de água quente acabadinho de preparar,
alguém que me ofereça abrigo e me convide para tomar chá,
que me cantem baixinho uma música... a Sofia vai dormir, a Sofia vai nanar!
que me ofereçam um ovo Kinder,
um vislumbre de um pôr-do-sol,
um ombro onde deitar a cabeça por uns instantes,
um amigo/a que me faça rir e dizer disparates,
um pequeno-almoço doce, na cama,
ir ver o mar de Inverno muito branco e brilhante ou ir ver o rio lá de cima,
mais? há sempre mais...

NOTA: A quem realiza os meus desejos quase todos...

Does anybody know what we are looking for?

OBITUARIO

Muere el coreógrafo francés Maurice Béjart, gran divulgador de la danza contemporánea. Su compañía, Ballet del siglo XX, llevó esta arte al gran público.- Ha fallecido a los 80 años en Lausana, Suiza (in EL País)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Je ne suis jamais seul avec ma solitude

E porque esta era a música que queria pôr hoje, porque de manhã me chegou este poema de Miguel Torga ao e-mail e lembrei-me logo do Moustaki. Obrigada, J.




Como nunca vieste, já não venhas.
O mais rico tesouro é o que se nega.
Ágil veleiro doutros mares, navega
Com as asas que tenhas!
Foge de ti, porque de mim fugiste.
Alarga a solidão que me consome.
E apaga na memória a praia triste
Onde eu pergunto às ondas o teu nome.
(Coimbra, 6 de Março de 1952)

Le facteur

Porque há comentários que merecem ser entradas...

Huckleberry Friend deixou um novo comentário na sua mensagem "Saudade de uma carta com caligrafia":

Reina, reina, quantas cartas, quantos postais, por vezes perdidos ou nunca enviados, vão aparecendo nas gavetas e nos caixotes por arrumar (ainda que a maioria esteja impecavelmente catalogada)? Não me canso de relê-las, de escrevê-las, umas para meter no correio, outras para deixar, discretamente, onde sabemos que o destinatário não pode deixar de encontrá-las... Não tenho, ao contrário do Manel, grande razão de queixa dos correios... queixo-me, como todos, da falta de cartas bem caligrafadas, por vezes com uma mancha de café ou uma paisagem desenhada ao canto. E o tempo, Manel, em que o carteiro era o único elo de ligação entre dois amantes?
Mas deixemo-nos de lamúrias: fui, recentemente, visitado por um carteiro inesperado e de identidade misteriosa. O breve telegrama que me cantou foi um bálsamo num dia não, quase como o Moustaki (linque acima) a cantar-me ao ouvido. Beijinhos!


Le jeune facteur est mort
Il n'avait que 17 ans
L'amour ne peu plus voyager, il a perdu son messager
C'est lui qui venait chaque jour
Les bras chargé de tous mes mots d'amour
C'est lui qui portait dans ces main
la fleur d'amour cueillie dans ton jardin
Il est parti, dans le ciel bleu
Comme un oiseau enfin libre et heureux
Et quand son âme la quitté
Un rossignol quelque part à chanter
Je t'aime autant que je t'aimais
mais je ne peu le dire desormais
Il à emporter avec lui
Les derniers mots que je t'avais écrit
Il n'iras plus sur les chemin
Fleuris de rose et de jasmin
Qui mènent jusqu'à ta maison
L'amour ne peu plus voyager
Il a perdu son messager
Mais mon coeur est comme en prison
Il est parti l'adolescent
qui t'aportait mes joix et mes tourments
L'hiver a tué le printemps
Tout est fini pour nous deux maintenant

NOTA: Depois de publicada, esta entrada tornou-se parte de um "Cais das Codornizes" involuntário. Aqui, pusemos Moustaki a tocar ao vivo. Já o codornizes preferiu a versão de estúdio.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Saudade de uma carta com caligrafia

Ainda há pouco tempo, passei horas a reler as cartas antigas que recebi! Foi como regressar ao passado em pedaços de papel. Relembrar histórias, amigos, amores antigos. Hoje, já quase não recebo cartas, apesar de ainda enviar algumas. Recebo alguns postais de tempos a tempos, de quem está longe ou vai passar uns dias longe. Eu gosto de escrever cartas e de mandar postais, de desenhar a caligrafia muito perfeitinha para se poder ler. De dizer onde estou, como está o tempo e contar as novidades o que vi, o que fiz, o que quero fazer! Tenho saudades dos tempos em que os postais de Natal eram imensos e se impunham em fila, em cima da cómoda, até ao dia de Reis. Gosto de escrever cartas a quem vive comigo ou mesmo a quem vive perto... Por isso gostei tanto deste excerto do livro que estou a ler (mesmo a acabar) do José Eduardo Agualusa - O Vendedor de Passados. Quem sabe não vai alguém, um dia, vender o meu passado perdido aí nessas cartas que escrevi e recebi? Espero que não...

«Meu bom amigo,espero que esta carta o encontre de excelente saúde. Bem sei que não é exactamente uma carta isto que lhe escrevo agora, mas uma mensagem electrónica. Já ninguém escreve cartas. Eu, sou-lhe sincero, sinto saudades dos tempo em que as pessoas correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas, em bom papel, ao qual era possível acrescentar uma gota de perfume, ou juntar flores secas, penas coloridas, uma madeixa de cabelo. Sofro uma nostalgia miúda desse tempo em que o carteiro nos trazia as cartas a casa, e da alegria, do susto também, com que as recebíamos, com que as líamos, e do cuidado com que, ao responder, escolhíamos as palavras, medindo-lhes o peso, avaliando a luz e o lume que ia nelas, sentindo-lhes a fragrância, porque sabíamos que seriam depois sopesadas, estudadas, cheiradas, saboreadas, e que algumas conseguiriam, eventualmente, escapar à voragem do tempo, para serem relidas muitos anos depois.»

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Fim-de-semana delicioso

Bem, vou fazer uma pausa, não para pensar, mas para comer... Esta é a antevisão do meu fim-de-semana gastronómico! Deixo-vos com uma fotografia e um piscar de olhos aos mais invejosos.
Notas de fim-de-semana aos amigos:
Miguel: vê lá se o parto é este fim-de-semana;
AV: boas arrumações e lá nos encontraremos depois;
Mad: não morras de inveja, quem engorda sou eu;
Huck: vamos ver quem engorda menos;
Ana L. Costa: um beijinho especial desta amiga;
Madrinha: trago-te um doce, tu mereces!

São graças dos olhos do meu coração

Aqui fica, na voz de Uxia, o poema de Camões Verdes são os campos, com música de Zeca Afonso, porque me lembra outra vez uns olhos e porque houve um pedido de música galega... e alguns desejos são ordens...



P.S. Ao Miguel, esperando que se desenterrem os mortos. Vá lá... estamos curiosos...

Cais das codornizes (II)


À primeira vista é uma música de Chico César, que lembramos cantada pela Daniela Mercury, no seu Feijão com Arroz (1996). Mais recentemente, descobrimo-la cantada por Pedro Guerra num dueto com o autor... en bilingüe!

A voz da Daniela lembra as tardes de Verão, ao pôr-do-sol, num pátio virado à Berlenga... a versão do Pedro e do Chico recorda os últimos serões românticos e algumas danças de princípio de noite.



Quando o olho brilhou, entendi,
Quando criei asas, voei
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, estava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Os teus olhos são peixes verdes

Porque esta é a música que se passeia pela minha cabeça. Porque se passeia nesta versão, da Gal Costa, na sua voz de disco de vinil e de Djavan. Porque é o que me apetece ouvir e partilhar. O poema? É porque me lembrei de uns olhos verdes...




(...)
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
(...)


Adeus de Eugénio de Andrade

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Cais das codornizes


Nasce hoje uma rúbrica interblogueira - o cais das codornizes. A ideia nasceu a propósito da música Tes Gestes, que o meu cais e o codornizes publicaram em duas versões.

Nesse dia, ouvimos Georges Moustaki e Serge Reggiani. Hoje, o cais volta a Moustaki e Barbara canta no codornizes. A música é La ligne droite. Esperem por mais duetos...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Remédio Santo

No próximo fim-de-semana, sabem onde vou? Não é para fazer inveja, antes um convite a quem quiser por lá passar.

Horários: das 10 h às 23 (Dia 18 encerra às 21h)

"As receitas conventuais saíram dos conventos e dos mosteiros de Portugal e Europa, para se instalarem no Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. A Mostra de Doces e Licores Conventuais permite saborear, durante quatro dias, verdadeiras maravilhas deixadas pela presença dos monges e monjas Cisterciences. Castanhas de ovos, Pão de Rala, Pão-de-Ló de Alfeizerão, Gradinhas e as Delícias de Frei João, são alguns dos exemplos da diversidade da doçaria que pode ser encontarda durante o evento. Os licores de Ginja de Alcobaça e Singevergam que ao longo dos séculos foram rodeados de secretismom serão tentações disponíveis a todos os que visitarem o Mosteiro." (in folheto promocional)

Já fui uma vez e acreditem que é um verdadeira maravilha... só ovos e açúcar... Por isso, o conselho é ir de barriga vazia, assim mesmo sem tomar o pequeno-almoço e muito menos o almoço e guardar muito espaço, para poder provar de tudo, incluindo os licores. Para prevenir possíveis quilos a mais, começem a dieta hoje mesmo, para que no 'dia D' a possam esquecer... Dizem, e se não dizem invento eu aqui mesmo, que todas aquelas doçuras fazem bem a tudo, até porque vêm do Convento - são remédio Santo.

Mas para aqueles que não puderem ir, ponham as mãos na massa e comecem a cozinhar:

Cornucópias
(Receita para 20 pessoas )

I N G R E D I E N T E S
Para a massa: 250 g de farinha; 3 colheres (sopa) de manteiga; 1 colher (chá) de fermento em pó; sal q. b.; azeite ou óleo (para fritar); açúcar e canela (para polvilhar)

Para o recheio: 1 chávena (almoçadeira) de doce de ovos-moles

Preparação: Misture a amasse a farinha, a manteiga, o fermento, o sal e a água até conseguir obter uma massa própria para tender. Tenda a massa com a espessura de cerca de 2 ou 3 mm. Corte em tiras de 1.5 cm de largo, e enrole em espiral, partindo de cima para baixo em forma de cornucópias, aconchegando bem. Frite em azeite ou óleo, ou mistura dos dois, a 160 ºC. Retire as cornucópias, passe-as por açúcar e canela e recheie com o doce de ovos-moles. (Receita retirada do livro: “Doçaria Conventual na Mostra de Alcobaça”- Chefe Silva)

Nota 1: Mad. estou a pensar especialmente em ti e, para não haver mais zangas, prometo comer uns docinhos por ti! Não me importo mesmo nada... ;)

Nota 2: Madrinha, espero que esta entrada anime os teus intervalos de trabalho árduo. Se tiver tempo, eu mesma faço o doce da Praia e levo-te aí uma tacinha pequenina, para não engordares.

Página 161, quinta linha

Também fui apanhada na corrente da "Página 161" e, como tenho muitos e bons amigos, fui apanhada logo duas vezes no mesmo fim-de-semana. O procedimento é fácil:

1. Pegue no livro mais próximo, com mais de 161 páginas – implica acaso e não escolha.
2. Abra o livro na página 161.
3. Na referida página procure a 5.ª frase completa.
4. Transcreva na íntegra para o seu blogue a frase encontrada.
5. Passe o desafio a cinco bloguistas.

Então eu passo a corrente aos meus mais recentes marinheiros, que, por causa disto, se calhar nunca mais cá aportam:
- 1 vez por semana do Myself
- Assim faliu Zarathustra do Tertuliano
- Pinguins que eles são muitos.

Aqui deixo as minhas duas partilhas, uma para cada corrente, de dois livros que estou a ler:

Para o Codornizes, porque este foi um presente dele:
Os desastres de Sofia, Condessa de Ségur (ilustrações de Vieira da Silva)
"Já sei tudo, minha menina." - disse ela - "É uma pequena mentirosa. Se me tivesse dito a verdade, dava-lhe um ralhete, mas não a castigava. Mas assim, vai ficar um mês sem montar o burro, para aprender que não se dizem mentiras."
P.S. Foi mesmo ao acaso! No coments, please! ;)

Del amor y otros demonios, Gabriel García

"Le mandó razón de que olvidara sus rencores y regressara a casa, para que ambos tuvieran con quién morrir."
p.s. Mad. já não estamos zangadas, mas para a próxima manda camarões e não batatas quentes!

domingo, 11 de novembro de 2007

Verão de São Martinho

Hoje foi dia de magusto!

O que me apetecia mesmo era ter acendido a lareira, ou na rua a fogueira, para assar as castanhas. Bem sei que este fim-de-semana o Verão vinha a tempo certo, era o de São Martinho a fazer cumprir a lenda. Mas tive pena pelo dia de sol e pelo vento que não soprou, porque a ideia era assar as castanhas à lareira. Mas não havia o devido frio e ninguém me quis fazer a vontade. Não se acendeu a lereira. Assámos as castanhas no fogão, abrimos pipa e provámos a água-pé e ainda bebemos a jeropiga de que eu tanto gosto. Uma mesa bastou para que a tarde fosse bem passada. Afinal, foi feita a minha vontade - no São Martinho: castanhas, jeropiga e vinho, mas não te esqueças do teu vizinho, como diz o provérbio.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Noviembre

Porque Noviembre se marcha y nos deja hojas secas, mas, sobretudo, porque tenho saudades de Madrid, deixo-vos com esta crónica de Manuel Vicent - Noviembre - que saiu no El País de Domingo passado.


En algunos pueblos marineros existe la costumbre de arrojar flores en alta mar el día de difuntos en homenaje a todos sus náufragos. El mar tiene memoria y puede que ese día recuerde el nombre de todas las almas que se ha tragado. Me gustan los cementerios marinos porque en ellos el aire azul cargado de sal parece penetrar como un don hasta el fondo de las tumbas más cerradas. En el cementerio de la isla de Strómbroli los muertos oyen los cañonazos que emite el volcán cuando vomita fuego con una cadencia medida desde el fondo de los siglos; sienten también el oleaje del mar que eleva montes de espuma hacia sus despojos; perciben igualmente el silencio de los halcones que para cazar atraviesan el espacio, cerrados como una navaja, hasta sumergirse en el agua donde atrapan el pez que han avistado y luego se elevan llevándolo entre las garras para devorarlo sobre una tumba arruinada. En las salvajes islas de Aran, al oeste de Irlanda, contra las losas mortuorias corroídas por el salitre y coronadas con la cruz gaélica, el ventarrón lleno de lluvia dobla sobre los muertos las briznas de anís de forma peremne. En el cementerio de Rabat todas las creencias acaban por diluirse en el mar convertidas en una sola fe, porque las olas azules son todos los dioses al mismo tiempo, que cambian continuamente de forma y sólo exigen ser navegados. El día de difuntos la gente lleva flores a sus muertos. En algunas culturas se establece el rito de ir con comida al cementerio y abrir las cazuelas sobre las lápidas para compartir con los deudos guisos de carne, buñuelos y huesos de santo. Aparte del poema de Paul Valèry, si tuviera que elegir un cementerio marino entre todos los que conozco escogería el mar en sí mismo, que es el que más horizontes abarca. Ayer, día de difuntos, fui a la orilla del mar y lo contemplé como un inmenso ser vivo que alberga las cenizas y la memoria de seres que he amado. Recordé sus nombres. Estos muertos se han convertido en oscuros e invisibles navegantes cuyo espíritu flota sobre las aguas. En la playa había mucha gente desnuda tomando el sol de noviembre y desde el chiringuito llegaba hasta el alma de los muertos un olor de calamares.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mes gestes...

Um presente que me chegou...


(Tes Gestes - Georges Moustaki)

Plus tendres qu'un aveu
Tes gestes me désarment
Ta main dans tes cheveux
Ou qui sèche une larme
Tu mêles savamment
L'innocence et le charme
Ta jupe de quinze ans
Et tes jambes de femme
Tes bras encor si frêles
Deviennent rassurants
Quand tu donnes à l'enfant
Ta douceur maternelle
Dis-moi qui t'a appris
A effleurer ma bouche
Toi qui suces ton pouce
Quand tu es endormie

Linha d' Água


Linha d`Vento
Brisa que ondula meus cabelos
e arrepia os teus pêlos
nos braços desnudos

Linha d´Água
Que nos percorre
E que como nós
desagua num tal abraço
apertado sem fim

Linha d' Amor
que nos persegue
E que perseguimos
Quando passeamos no éter
De mão dada
Enredados pelas redes de um barco
Que nos solta a navegar
Ilusões e sonhos
Escondidos nas nuvens
Que não são nada
Quando sou o tudo contigo

Linha d' Água
Linha d' Vento
Linha d' Amor
que terminam em cada fim
de cada encontro
fugaz e mágico
que terminam em cada fim
num adeus das mãos dadas.

Mini-narrativa (I)


Longa a noite de solidão, entrecruzada por cigarros apagados num cinzeiro azul.
Medo da doçura de um beijo que não chega ainda aos braços dos amantes, hoje dispersos...
- Amas-me?
- Quem? A ti?
- Não sei... a nós.
- ...
Quero-te inteiro em mim!, mas esta noite apenas resta o desejo, mais quente do que a vontade e a esperança de que chegues devagar, sem fazer barulho, para pentear os meus cabelos com teus dedos morenos, desenhar o meu corpo com as tuas mãos grandes e deitar-te a meu lado. Deixo a luz acesa, para o caso de te perderes... apaga-a quando entrares nos meus lençóis e acende a luz da paixão, que os nossos corpos faiscam ao se entrelaçar.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O PIANO

Não vou ser a primeira a fazê-lo, mas roubar 'animais' do ZOO é irresistível, que me perdoe o dono dele, mas não pude deixar de pôr este vídeo.

Tu tens um medo

Dize:
O vento do meu espírito soprou sobre a vida.
E tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que és eterna ...

VI
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

VII
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...

XXIII
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.

XXV
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!

XXVI
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...

Cecília Meireles (1901-1964)

Nota 1: Ao B. que tinha um medo... mas já não tem.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sé que volveremos...


Madrid parece já estar tão longe e ainda ontem chegámos. Foram quatro dias memoráveis. Embora o Outono lá arrefeça os corpos, coisa que já vi que por cá continua sem o fazer, consolou-me aquele sol brilhante do Jardim del Buen Retiro e da Plaza Mayor, que aquece qualquer coração.

Mas Madrid tem sempre aquele encanto, aquela alegria de chegar mais uma vez… acho que pela oitava! E desfrutar, sem pressas, sem horários, sem compromissos… quase como pairar sobre a cidade, vendo tudo e todos, fazer parte, entrelaçar entre as ruas do Lavapiés, calquinhar o barrio de Salamanca cheio de niños pijos, acabados de sair da missa dominical, entrar e sair das tiendas em que nos dê ganas , procurar meticulosamente os sítios de almoço e de jantar, e de tapeo… Encontrar a a minha tia e ter o prazer de almoçarmos juntos… comer pulpo, calamares, tortilla e pimientos padrón – unos picán otros no! Jantar com os amigos, em casa, com a lareira, bom vino e muitas anchoas… uns amigos que nos recebem sempre bem!

Querer ver tudo e estar em tudo… viver como madrileños até tarde, mas acordar cedo, seguindo a velha máxima de que deitar tarde e cedo erguer dá para ver tudo! Andar a desoras da maioria dos transeuntes - ir ao Prado de madrugada e levar o pequeno-almoço para a cola, levar sempre o El País para poder ter algo que leer, beber muito vermouth de grifo em qualquer sítio, mas melhor que seja no Anciano Rey de los Vinos, onde põem umas tapas óptimas, mas onde não resisto às bravas. Nos entretantos, ir fazendo uma lista mental de tudo aquilo que temos de comer e onde, para não deixar passar nada! Beber muitas copas e comer muitas tapas, passear muito até não poder mais e descansar nuns braços abertos ao som de música cubana. Tentar acabar a noite com um chocolate quente e churros, mas não resistir a mais um mojito, para dar forças para o caminho de casa. Mas ainda dá tempo de dançar no meio da Plaza Mayor a Balade pour Adeline, que alguém toca numa espécie de xilofone, passar os dias a ser perseguido pelas Feuilles mortes e achar que isso é uma coincidência feliz. Subir à cúpula da catedral e ver Madrid de cima, como um voo da codorniz, sobrevoando a Plaza de Oriente, mesmo em frente Palácio Real, e pousar sobre um banco do jardim entre duas estátuas de anteriores reis, não conseguindo imaginar que estas tenham podido estar, originalmente, no telhado do palácio. Mas saber que o melhor de tudo é dançar La vie en Rose e fazer poesias ao vento...

Arranjar os dois últimos bilhetes para o musical dos Mecano e cantar as músicas todas, ou pelo menos as que sabemos! Perceber que a loucura da movida madrileña é contagiante e que se pode aguentar se forem quatro noites e mesmo assim acordo a cantar 'Hoy no me puedo levantar, el fin de semana me dejo fatal; toda la noche sin dormir, bebiendo, fumando y sin parar de reir…' O que nos leva a beber Campari con Naranja no intervalo enquanto Nacho Cano (él mismo!) nos dá um autógrafo! Mas ter a certeza que é possível seguir outros motes e 'hacer lo que podamos por cenar perdiz', no Botín. Não deixando por isso de resistir às croquetas e às almejas… quase à meia-noite, com o restaurante quase privado, sem ter reserva mas ter um sorriso que conquista qualquer camarero e que não fez a desfeita a esta niña!
Antes disso ainda aproveitar um chiringuito aberto e tapear um pouco mais, uma cecina de León (ai que saudades das Castilla e León!) e una tapa de bacalao con aceite de oliva, se bem que ainda haja uns sortudos a quem regalan una tapa de cabrales!

Passar horas na exposição da Paula Rego a ver cada pormenor em cada quadro que nos arrepia, porque há sempre um pormenor que confrange e que destrói a candura de alguns contornos e gestos. A presença do elemento animal, metáfora de uma animalidade maior do ser humano, mas também máscara para uma realidade demasiado dura. A pintora diz que resulta mais com rostos animais. Adorar os estudos dos quadros, por ser tudo mais pequenino, até aquilo que nos perturba. Gostar do quadro do Baile, mas gostar mais ainda dos estudos para esse quadro e de saber como Paula Rego o foi criando, e de o saber pela voz dela. Saber que a seguir ainda podemos subir e ver Dalí e Miró, passar só para ver aqueles de que gostamos mais! Comprar todos os postais de todos os quadros que me encantan e oferecê-los a quem me encanta também! São pinturas com poesias dentro…

Subir a Castellana até à Fundaccion Canal, mesmo ao lado das torres inclinadas só para ver a exposição – Ocultos - una exposiccion preciosa cujo mote é: 'Si la cara es el espejo del alma, no existe nada tan corporal, tan carnal como el culo'. Vale pelas imagens e por toda a disposição das fotografias, com uma decoração particular, merecedora de elogios e de visita!
Saber que antes de voltar para casa, ainda há tempo para ir ao Círculo e ver os Momentos Estelares - la fotografia do século XX, uma parte de uma grande exposição de fotografia, muito bem organizada e bem explicada, para os menos entendidos na história da fotografia!

E no fim, a melancolia do regresso, sem deixar de passar pelos sítios onde fomos felizes… em quase todos… em Madrid...