sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Noviembre

Porque Noviembre se marcha y nos deja hojas secas, mas, sobretudo, porque tenho saudades de Madrid, deixo-vos com esta crónica de Manuel Vicent - Noviembre - que saiu no El País de Domingo passado.


En algunos pueblos marineros existe la costumbre de arrojar flores en alta mar el día de difuntos en homenaje a todos sus náufragos. El mar tiene memoria y puede que ese día recuerde el nombre de todas las almas que se ha tragado. Me gustan los cementerios marinos porque en ellos el aire azul cargado de sal parece penetrar como un don hasta el fondo de las tumbas más cerradas. En el cementerio de la isla de Strómbroli los muertos oyen los cañonazos que emite el volcán cuando vomita fuego con una cadencia medida desde el fondo de los siglos; sienten también el oleaje del mar que eleva montes de espuma hacia sus despojos; perciben igualmente el silencio de los halcones que para cazar atraviesan el espacio, cerrados como una navaja, hasta sumergirse en el agua donde atrapan el pez que han avistado y luego se elevan llevándolo entre las garras para devorarlo sobre una tumba arruinada. En las salvajes islas de Aran, al oeste de Irlanda, contra las losas mortuorias corroídas por el salitre y coronadas con la cruz gaélica, el ventarrón lleno de lluvia dobla sobre los muertos las briznas de anís de forma peremne. En el cementerio de Rabat todas las creencias acaban por diluirse en el mar convertidas en una sola fe, porque las olas azules son todos los dioses al mismo tiempo, que cambian continuamente de forma y sólo exigen ser navegados. El día de difuntos la gente lleva flores a sus muertos. En algunas culturas se establece el rito de ir con comida al cementerio y abrir las cazuelas sobre las lápidas para compartir con los deudos guisos de carne, buñuelos y huesos de santo. Aparte del poema de Paul Valèry, si tuviera que elegir un cementerio marino entre todos los que conozco escogería el mar en sí mismo, que es el que más horizontes abarca. Ayer, día de difuntos, fui a la orilla del mar y lo contemplé como un inmenso ser vivo que alberga las cenizas y la memoria de seres que he amado. Recordé sus nombres. Estos muertos se han convertido en oscuros e invisibles navegantes cuyo espíritu flota sobre las aguas. En la playa había mucha gente desnuda tomando el sol de noviembre y desde el chiringuito llegaba hasta el alma de los muertos un olor de calamares.

10 comentários:

Anónimo disse...

Qual foi a última vez que fui feliz em Novembro?
A sério que não me lembro


escreveu um miúdo, há muitos anos, a rematar o típico poema adolescente. Hoje acho que já se lembra. E já está à espera da próxima vez.

ana v. disse...

"todas las creencias acaban por diluirse en el mar convertidas en una sola fe, porque las olas azules son todos los dioses al mismo tiempo, que cambian continuamente de forma y sólo exigen ser navegados."
Que beleza de crónica, Sofia! A propósito de usos diferentes, conto aqui uma historiazinha que dá que pensar:
Um homem estava a pôr flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês deixando um prato de arroz na lápide ao lado. Então vira-se para o chinês e pergunta: Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz? E o chinês responde: Sim, quando o seu vier cheirar as flores...

Beijinhos

Liévin disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Liévin disse...

oi!

perdão por não aparecer novamente, mas é que fechar livro para não perder prazos, e conseqüentemente, o diploma é algo de fazer qualquer um sair dando com a cabeça nas paredes!

enfim, de qualquer forma, eis-me aqui, atracado, descendo ao cais, buscando a direção da capitânia, para me registrar e avisar que, sim, cheguei!

Sofia K. disse...

Huck, eu lembro-me... ;)

Ana, onde é que eu já ouvi essa história? Sim, a crónica é belíssima e ainda me lembra os dias de Madrid... ai que saudades!

Tertuliano, obrigada por mais esta visita, também não tenho ido ao seu blogue, mas já vi a capa do livro... bonita! A imagem daquilo que o trouxe aqui - um cais! Espero ser a sua nona leitora... e olhe que aqui os meus marinheiros também por lá passaram!

beijinhos a todos

Anónimo disse...

Em Outubro, Sofia, fui feliz ao ver Son de mar, filme de Bigas Luna baseado no romance do mesmo nome de Manuel Vicent, que lera há anos (foi editado em português pelos Livros do Brasil)

É a história de um amor carregado de poesia e erotismo, uma paixão exacerbada pelo perfume da flor de laranjeira - que desarranja as hormonas a toda a gente - e pela maresia mediterrânica. De uma intensidade que corta a respiração, de uma tragédia que se adivinha quase desde o primeiro instante, e à qual os próprios protagonistas parecem entregar-se de livre vontade, mas que não impede surpresas e reviravoltas no enredo, o livro é um momento alto na escrita muito sensorial de Vicent, o homem que um dia jura ter encontrado a Virgem de Fátima à porta da Brasileira do Chiado...

O filme é uma ilustração muito digna do romance. Os dois actores principais e as cenas de sexo que protagonizam são impressionantes.

Sofia K. disse...

Mas estamos a falar do mês de Novembro, porque te lembraste de Outubro? ´Para no fim...'rirmos os dois, é depois'? Talvez...
Sim, também gostei do filme, muito bonito e intenso. E aquele Ulisses a dizer: 'Cruzei todos os oceanos deste mundo para saber que não posso viver sem ti'... eu não precisei de tanto... LOL
Que piroso!

beijinhos pirosos

Sofia K. disse...

Huck, o autor é o mesmo - Manuel Vicent... nem me tinha lembrado disso... sempre atento este meu rapaz... beijinhos outra vez

Huckleberry Friend disse...

Eu NÃO ACREDITO que não tenhas visto logo que era o mesmo... mas ok, eu fui o tal que trauteou o Take this waltz durante 20 anos sem saber que a letra era do Lorca! Seja como for, e depois de ter gozado com o teu último comentário, deixa-me responder, muito a sério, ao penúltimo:

Y he aquí que se lanzan por el mar profundo en calma dos serpientes de inmensas espirales que avanzan a la par hacia la ribera. Por encima de las ondas levantan su pecho y sus sangrientas crestas superan el agua; lo restante de su cuerpo se desarrolla largamente a flor de ola y su enorme espinazo se desdobla en anillos sin fin. El mar hace espuma y sonido. Y ya llegan a la orilla, sus ojos ardientes, llenos de sangre y llama. Vibrando sus lenguas de saeta, lamiendo con ellas las sibilantes bocas. Ellas derechamente van a Laoconte y le aprisionan en medio de dos vueltas y en derredor de su cuello con doble anillo de su cuerpo le oprimen y con sus cabezas y cervices altas le superan. Él con ambas manos intenta romper los nudos...

Manuel Vicent, Son de mar

Sofia K. disse...

A minha parte favorita do filme... sem dúvida! Tenho de ler o livro... Vai para a lista dos próximos a ler!

beijinhos de mar