O vento do meu espírito soprou sobre a vida.
E tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que és eterna ...
VI
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
VII
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
XXIII
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
XXV
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
XXVI
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
Cecília Meireles (1901-1964)
in Cânticos
Nota 1: Ao B. que tinha um medo... mas já não tem.
6 comentários:
Cá estou é verdade...Descobri a blogosfera tarde mas em boa horae com a força toda! vamos viajnado de porto em porto e de cais em cais e o teu é paragem obrigatória!!
Bem-vinda CVD... também já andei pelos teus blogues e comentei! Começaste logo em força com dois! Vai ancorando aqui com a ajuda do teu Vento... e das ondas do surf... e podes trazer pinguins que eu gosto!
beijinhos
Que beleza de poema, Sofia!
beijinhos
ainda bem que gostaste... adoro a Cecília tem uns poema muito bons... sobretudo por isso, por serem bonitos!Chamam-lhe a poetisa da alma... tem um vocabulário muito simples, muito próprio... escreve coisas lindíssimas, mas este conjunto é sem dúvida o meu preferido! Mas ainda não tinha tido tempo de o separar por Cânticos...
Beijinhos
Adorei o poema! Não conhecia a escritora, mas já fiquei com curiosidade...
Olá Catarina, bem-vinda a este cais... também já andei a passear pelos seus blogues, por curiosidade!
beijinhos
Enviar um comentário