quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Pausa em Madrid
Pão por Deus
Sozinho sem mais ninguém
Vai pedir o Pão-por-Deus
A quem quero tanto bem.
Quando vim viver para Lisboa, aos oito anos, tive muita pena de não haver por cá esta tradição. O mais parecido que havia era, em Junho, pedir-se uma moedinha para o Santo António, mas não havia doces para ninguém, apesar de as moedinhas darem para muitos doces na mercearia do Sr. Fernando. Eu via as minhas amigas comprarem, mas eu não tinha essas moedinhas, que a minha mãe não me deixava andar na rua! Coisas da cidade!
Mas hoje, é desses tempos e dessa terra onde a liberdade se ganha na infância e a inocência nos deixa a correr horas sem fim pelos campos e pelas ruas, sem medos, sem tempo... Hoje, são essas recordações que ficaram, de uma manhã a bater de porta em porta, a encher de sonhos um saco de alegria - nada melhor do que um doce para fazer feliz uma criança e quem corre por gosto não cansa. Se pudesse ainda ia ao Pão por Deus, mas já estou crescidinha, resta-me o consolo de um saquinho que me fica destinado em casa da Avó Lena, cheio de Bolas de Neve e que como, tal como dantes... todas de uma vez!
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Bob Marley - Three Little Birds, por Gilberto Gil
Ana, minha querida irmã: 'This is my message to you-ou-ou...'
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
A uma amiga
domingo, 28 de outubro de 2007
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Más adentro...
Mar adentro, mar adentro,
y en la ingravidez del fondo,
donde se cumplen los sueños,
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.
Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno,
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo;
es como penetrar al centro del universo:
El abrazo más pueril,
y el más puro de los besos,
hasta vernos reducidosen un único deseo:
Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo sin palabras:
más adentro, más adentro,
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.
Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos...
Medo
quando tudo se parece perder
e nem o cais é de encontro.
Medo,
quando tudo escorre
por entre os dedos de uma mão cheia.
Medo,
quando tudo acaba
ainda antes de começar.
Medo,
quando tudo queima e arde
como folha de papel na lareira.
Medo,
do silêncio da voz
e da agitada consciência.
Medo,
quando tudo é nada
e nada parece ser o fim.
Nota: dedico esta música à Madrinha, que ajuda a escapulir ao medo que às vezes nos aperta o coração. Acho que gostas desta!
Aos outros marinheiros, espreitem a letra aqui, vale a pena.
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Um cheirinho da minha ilha
Ali, no meu paraíso, passamos o Verão, mas a praia é mais nossa no Inverno, no mar revolto e na areia varrida pelo vento, nas rochas, escarpas que o mar doira com a sua espuma. Gosto de o ver no Inverno, de chegar pela manhã ou pela tarde, à paz do mundo em rebuliço, magia de uma solidão tão bem acompanhada. De ficar a dormir nas noites em que o frio não acaba e a madrugada amanhece distorcida, sem se ver o mar. Mais perto ele é branco, ele é verde, azul ou algas. Mas é meu.
O sol, esse, põe-se ao largo da Berlenga e vemo-lo poisar, no mar ou na ilha, os seus últimos raios. Magia sem fim, essa ilha de amantes e de amores, primeiros ou segundos, ou terceiros, sempre ilha de amores. Magia do nevoeiro matinal de um dia de Agosto, de um dia outonal, como se alguém fosse chegar. Tarde de pescadores da praia dos seus barcos, esperando que peixe fresco chegue à lota à beira-mar, perceves e bom peixe da ilha, da entre ela e a das Pombas, sempre coberta de gaivotas! Ao largo, outra ilha, a das Cebolas, que da árdua subida, recompensa a alegria com a ilha deserta que o mar eterno e infinito rodeia, a ver surfistas controlar o mar, de pé ou em pino, fazendo de bailarinos das ondas. Praia, duas, com areais imensos... caminhantes, piqueniques, passeios longos, areal imenso esperando as nossas pegadas, impressões do corpo nesse espaço tão nosso. Ir até lá longe, onde ninguém vê, onde as gaivotas passeiam a nossos pés e as ondas são mais puras e brancas, onde o mar é mais entusiasta a beijar os nossos pés, já cansados de calquinhar o passeio do mar! Pescadores de cana, vultos no horizonte, que aos poucos se assilhuetam ao nosso olhar, tão perdido em maravilhas!
Baleal, a minha praia, a nossa praia, onde um dia o sol de Verão apareceu ao Agosto e depediu-se dele com um raio verde - magia de um olhar e de um amor que só poderia ter nascido ali! Baleal é meu, é nosso, o Baleal.
P.S. Um cheirinho da magia desta ilha que é nossa, um bocadinho de cada um. Aos marinehiros do Cais que por lá aportam, para lembrar o friozinho que por lá se sente e do qual, faça chuva ou faça sol, temos sempre saudade!
(Nota: as fotografias foram tiradas pelo Codorniz e por mim)
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
A primeira chuva
Ondas que descansam no seu gesto nupcial
(António Ramos Rosa - Facilidade do Ar - Lisboa, Caminho, 1990)
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Take this waltz...
Resposta a uma provocação
Cicatrizes felizes
As cicatrizes são as marcas do passado impressas no corpo e na alma, que não nos deixam esquecer as aventuras e desventuras por que passámos. Os joelhos esfolados em criança muitas vezes nunca saram, e na memória ficam as histórias de cada pedaço de cicatriz, que muitas vezes se unem. Cada joelho tem uma história, quase sempre associada à desobediência, a corridas loucas e a brincadeiras que nos pareciam sempre inofensivas - quando somos crianças acreditamos que podemos voar e não há limites de alturas, saltamos sempre de mais alto. A cabeça, essa, nunca parti, tive essa sorte, porque vi partir muitas, mas as minhas pernas eram sempre uma vergonha, entre cicatrizes, feridas e crostas arrancadas. Nada que ficasse bem a um menina, mas o facto de haver mais primos rapazes convertiam-nos em maria-rapaz num instante, éramos só duas.
Os sonhos de uma infância feliz, de brincadeira e aventura, como só os livros dos Cinco um dia me contaram. Acho que vivi um pouco de todas essas aventuras, no campo e na praia. Sempre em segredos, sempre em correrias, sempre felizes, a saltar de rocha em rocha! Ai, a vida de criança é tão feliz, pura e inocente que, quando crescemos, é bom lembrar e guardar as cicatrizes que nos ficam no coração e na pele, uns joelhos eternamente esfolados, todos ou só talvez no sítio abaixo dele. Ainda hoje, quando nos juntamos, somos um bocadinho crianças e fazemos da nova geração as cobaias das nossas brincadeiras, a quem teremos todo o gosto ensinar. Trepamos às árvores, atiramo-nos à piscina e corremos atrás uns dos outros. Estas cicatrizes são as melhores páginas dos livros da nossa vida, a melhor recordação desse mundo feliz.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Construir castelos
Não podia ser uma síntese mais perfeita do que é a vida, nesta paciente aventura da construção dos caminhos, das casas e dos céus que estão por cima de nós! É este poder de autores da nossa vida e dos nossos cenários que nos dá alento para mais dias - se possível, felizes! As nuvens, essas, é soprar com força e desaparecem. Gosto da ideia de construir castelos com as pedras que aparecem, ou que pomos, no nosso caminho! Talvez um dia, consiga construir um castelo como de Óbidos!
"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. (...) Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."
Nota: primeiramente, este texto apareceu, aqui no blogue, com a autoria de Fernado Pessoa, mas graças ao aviso da Madrinha, retirei essa nota. O autor não sei quem foi, apesar de já ter andado a investigar, mas mantém-se a mensagem.
domingo, 21 de outubro de 2007
Uma romã no Outono
sábado, 20 de outubro de 2007
Sei quem és de onde vens
pela leveza magia do teu chegar
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Para mim chegou o Outono...
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Hoje é o dia
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Uma pedra no meio do caminho
Homenagem a Dragomir Knapic
Para lembrar, uma música que lhe dedicámos, na voz da neta mais 'maluca' de todas, a Ana.
Quando Deus te desenhou ele tava namorando
Na beira do mar
Na beira do mar do amor
(...)
Papai do céu na hora de fazer você
Ele deve ter caprichado pra valer
Botou muita pureza no seu coração
e a sua humildade fez chamar minha atenção
tirou a sua voz do própolis do mel
e o teu sorriso lindo de algum lugar do céu
e o resto deve ser beleza exterior
mas o que tem por dentro para mim tem mais valor
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Un regalo de palabras al oído
E foi aquela voz que me despertou a curiosidade e me entrou no ouvido. Cheguei a ele através de um duento com Cesária Évora – “Tiempo de Silencio”. Maravilhoso!
Ontem, descobri-o a cantar um soneto de Neruda, 'Antes de amarte, amor', e a poesia da sua voz mistura-se com a poesia de Neruda, nem imaginam a beleza... Mas ainda há mais... Um passarinho, fã do Pedro Guerra, sussurrou-me as melhores músicas e os melhores discos. E lá me perdi numa tarde com uma grande banda sonora.
Aconselho a ouvirem com tempo e com silêncio o disco “Mararía”, a banda sonora de um filme com o mesmo nome, porque é sem dúvida incrível. Mas hoje deixo-vos com uma das minhas preferidas - um presente a esse passarito que me sussurrou esta brisa.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Fernando Guimarães - a simplicidade profunda
Faço aqui a minha homenagem a um poeta de que gosto particularmente, pela simplicidade das palavras, mas pela densidade da mensagem, na medida em que se fundem a poesia e a filosofia, um eco das duas influências. Distingo o rigor expressivo da sua poesia, que Jorge de Sena sintetizou como "uma atmosfera visionária mas estranhamente tranquila".
tivesse eu sido poeta
comparada às ondas do mar
às rochas da praia
queria ter criado metáforas
do amor como libertação
da paixão como prisão
não queria estar aqui,
por amor a ti!
sábado, 13 de outubro de 2007
Fim-de-semana é para ganhar coragem
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Água da Índia
(As Leis de Manu, capítulo 5, versículo 156-161, Dharamshastras)
A terceira parte da trilogia cinematográfica dos Elementos - os anteriores foram "Fogo" (1996) e "Terra" (1998) -, "Água" (2006), retrata a vida das viúvas na Índia na década de 1930, assim como a condição das mulheres e o esmagamento da sua dignidade. Dizem os Shastras que uma mulher é metade do seu marido, enquanto ele está vivo. E quando o marido morre, as mulheres também ‘meio-morrem’, logo, uma meia-morta não poderá sentir dor. Mas a verdade vem da boca da pequena Chuyia, que ficou viúva com apenas oito anos, sem nunca ter conhecido o marido, mas proibida de voltar a casar. A sua condição de viúva reflecte-se no estigma do cabelo rapado e nas privações económicas com que vivem as viúvas. Mas é ela quem representa, de certo modo, uma evolução que vinha sendo anunciada por Gandhi. É ela que diz: ‘Uma meia-morta pode sentir dor, porque ainda está meia-viva’.
Chuyia vive internada numa "ashram", uma casa de recolhimento para viúvas, onde deverá permanecer até ao fim da vida, privada das alegrias da infância. Esta personagem é, ao mesmo tempo, carismática e comovente, sempre com o seu ar inocente e um sorriso puro. A realidade que nos é apresentada é ainda mais crua quando se trata de uma criança. É uma história de extrema sensibilidade e envolvência.
Destaco o trabalho de fotografia de Giles Nuttgens e ainda a actriz Lisa Ray, no papel de Kalyani, a mais bonita de todas as viúvas.
Miguel Torga - 'Homem, Cidadão, Poeta'
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Fado de Encontro
Sugestão musical:
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Sinto o fogo à flor da pele
Fica o mar no horizonte
Pode a noite ter outra cor
Pode o vento ser mais frio
Pode a lua subir no céu
Vou andando, cantando
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Maria Lisboa
É varina, usa chinela,
Na canastra, a caravela,
Em vez de corvos no xaile,
Gaivotas vêm pousar.