terça-feira, 9 de outubro de 2007

Maria Lisboa

A exposição David Mourão-Ferreira e o Fado está patente até dia 31 de Outubro no Museu do Fado, em Alfama. O museu vale a pena, pela exposição permanente, onde podemos encontrar uma série de colecções de discos, cartazes, instrumentos e partituras. Apesar disso, a exposição actual vale pelo homenageado.

David Mourão-Ferreira (1927-1996), no seu percurso multifacetado enquanto poeta, ensaísta, ficcionista, jornalista, professor e tradutor, chega a todos os portugueses através da “Maria Lisboa”, da “Madrugada de Alfama”, da “Primavera”, do “Abandono”, ou do “Barco Negro”. São dele estes poemas-cantados que nos fazem sentir ainda mais lisboetas, de espírito bairrista. É com ele que sentimos a magia dos bairros de Alfama e da Mouraria, sentimos Lisboa como nossa. A alma da poesia canta no nosso peito, qualquer que seja a nossa naturalidade. Assim, recordam-se os tempos em que a poesia e o fado se encontram. A exposição apresenta "uma recriação do escritório do autor, trazendo a lume os testemunhos da obra poética que consagrou ao fado, entre manuscritos originais e letras dactilografadas, as primeiras edições discográficas que consagraram estes temas, a par de um conjunto de registos audiovisuais que ilustram as interpretações de poemas da sua autoria por Amália Rodrigues, Camané, Mariza e Cristina Branco, entre outros." Deve valer a pena.

É varina, usa chinela,
Tem movimentos de gata;
Na canastra, a caravela,
No coração, a fragata.

Em vez de corvos no xaile,
Gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
Baila no baile com o mar.


É de conchas o vestido,
Tem algas na cabeleira,
E nas velas o latido
Do motor duma traineira.


Vende sonho e maresia,
Tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
Seu apelido: Lisboa.

8 comentários:

Anónimo disse...

Para mim, o melhor é o Fado Peniche, cantado pela Amália.

Anónimo disse...

Sofia: quando me dás a honra de ser comentador sem ter que andar aqui a escrever coisas que saem só pela metade???
Acho que há uma funcionalidade assim, nos "commenteers"
Mário Pipopó

Anónimo disse...

Não sei o que se passa... já andei a sondar e isso nõ acontece a mais ninguém! O fado de Peniche, com o poema Abandono de David, também é muito bom. Esse fado foi proibido por ser considerado um hino aos presos em Peniche. Aqui fica para todos...

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

Ao menos ouvia-se o vento e o mar, mas era melhor a libertação (Também adoro esse!)

beijinhos

Anónimo disse...

Admira-me que ainda gostes tanto do "Libertação", de tanto que já mo ouviste assassinar. Ficou-me na cabeça desde um documentário da RTP2 no ano da morte de David. Era cantado por um coro do meu querido Colégio Moderno. Adoro a frase "Este amor é teu e meu / Só na terra o queremos ter".
Um beijinho.

Anónimo disse...

Meu querido Pedro, não querendo estragar o teu espírito romântico... se fosse só esse fado que tu desafinas eu já não ouvia fado! E que isto não te provoque dor, porque eu também não tenho uma ouvido muito bom e a voz ainda é pior! Mas possuimos apenas aquele que Deus, ou o Big Bang, nos deram - parafraseando o Jobim!

Beijinhos

Anónimo disse...

Eu não desafino. Não tenho é voz. São coisas diferentes.

Ah, e for the matter, não é UMA ouvido. É UM. E podes não tê-lo bom, mas a tua voz é linda (pronto, depois da pilhéria tinha de vir pieguice).

Outro beijinho

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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