quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Viagem

Deixo-vos com um poema de Miguel Torga, porque é sobre ele que ando a preparar uma entrada (talvez logo à noite!). Um convite para conhecerem melhor este autor. Mas encontrei o poema 'Viagem', que falava em cais, em mar e marinheiros. Mas a vós vos peço que não partais, mas antes que vos chegueis mais...

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

6 comentários:

ana v. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Tem graça, sempre achei o Torga melhor contista do que poeta. Mas reconheço que tem alguns poemas muito bons, e este é um deles: forte, conciso, sugestivo. Boa escolha, afilhada!

Beijos

Anónimo disse...

"O que importa é partir, não é chegar".
Mas é bom ter um cais onde aportar, quando a refrega é grande e os demónios andam à solta.
Manda a vontade de El Rey Dom João Segundo, mas os Mostrengos são animados pelo Demo, e acolitados pelos incautos e ingénuos, que por vezes crêem poder-se fazer tréguas ente o Bem e o Mal.
Não. São duas entidades absolutas e imiscíveis. E a ética assim o exige, tenha o assunto a dimensão que tiver.
A noite albergará meu barco no cais, oscilando ao sabor da mareta. Amanhã enfrentarei as vagas e o vento, com o reforço do abrigo que um qualquer porto pode fornecer - como o nosso próprio porto interior.

Anónimo disse...

Sim madrinha é bonito... e tem muito a ver comigo... sobretudo o 'procurar o velho paraíso que perdemos'! Também eu já larguei as velas e cheguei a um novo cais... tu percebes!

Anónimo disse...

Fizeste bem, afilhada: navegar é preciso, e sem medo. Se não nos fizermos ao mar nunca sairemos do cais, e não foi para isso que construimos os nossos belos veleiros.
Tempestades haverá sempre. Mas elas podem ensinar-nos muias coisas, sobretudo sobre nós próprios:
"Todos os dragões da nossa vida são, talvez, princesas que esperam ver-nos um dia belos e corajosos. Todas as coisas aterradoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos." Quem o disse foi Rilke, um Grande Poeta. E eu dou-lhe toda a razão. Quantas vezes vemos fantasmas e monstros que são criados exclusivamente pelo nosso próprio medo! Enfrentamo-los, e... desaparecem nas brumas, porque nunca tinham existido sequer.

Grande beijinho

Anónimo disse...

Quem tem medo do lobo mau? Ou do bicho-papão? A verdade é que o longo da vida, há muitos sapos a virar princípes, talvez porque sempre o tenham sido, mas nós não os tenhamos visto, pelo menos com esses olhos! Mais vale soltar as amarras mesmo em dias de tempestade e fazer-se ao mar... A prática vai dar-nos coragem para mais viagens, por sua vez, cada vez maiores. Para os mais amedrontados, façam uma viagem pequena até outro cais, que com a amizade virá a coragem!

beijinhos de amizade