sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Bom fim-de-semana

"Es necesario abrir los ojos y notar que las cosas buenas están dentro de nosotros, dónde los sentimientos no necesitan de motivos ni los deseos necesitan alguna razón. El importante es aprovecharse la del momento y aprender su duración, porque la vida está en los ojos de quién sabe verlo."
Gabriel García Márquez

Sermão da sexta-feira

Questão é curiosa nesta Filosofia, qual seja mais precioso e de maiores quilates: se o primeiro amor, ou o segundo? Ao primeiro ninguém pode negar que é o primogénito do coração, o morgado dos afectos, a flor do desejo, e as primícias da vontade. Contudo, eu reconheço grandes vantagens no amor segundo. O primeiro é bisonho, o segundo é experimentado; o primeiro é aprendiz, o segundo é mestre: o primeiro pode ser ímpeto, o segundo não pode ser senão amor. Enfim, o segundo amor, porque é segundo, é confirmação e ratificação do primeiro, e por isso não simples amor, senão duplicado, e amor sobre amor. É verdade que o primeiro amor é o primogénito do coração; porém a vontade sempre livre não tem os seus bens vinculados. Seja o primeiro, mas não por isso o maior.

Padre António Vieira, in "Sermões"

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Soube-me a amar


Hoje saí para almoçar e não voltei. Desliguei o telemóvel, entrei no carro e pus-me a caminho do mar. Pelo caminho, abri as janelas de par em par e pus a Flauta Mágica a tocar, com o volume no máximo, para que a flauta calasse o burburinho da cidade.

Cheguei ao mar e nele reflectia o imenso sol brilhante. Desci à praia, descalça, como se querem os pés na areia, transformei as minhas calças cigarrilha nuns corsários e lancei-me à beira-mar.

Durante horas, percorri-a para um lado e para o outro, saltitando e fugindo da ondas de maré cheia. Perfeito momento de egoísmo, de encontro do eu com o eu, sem os barulhos do dia, os silêncios da noite e a agitação do pensamento. Só eu. Os pés frios foram ganhando o calor dos passos pequenos, enterrados na areia acabada de molhar e o pouco vento que fazia, foi sendo brisa musical. Ao fundo as rochas, os outros, os surfistas, o mundo... mas ali era só eu. E sabem a imensidão os passeios pelo mar, sabem a poesia e eternidade. E hoje, esta tarde... soube-me a amar.

Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.

Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.

Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
(Manuel Bandeira
)

Cantinho da biblioteca (III)


"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
-Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
-Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
-Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

Lewis Carroll , in Alice no País das Maravilhas
(encontrado
aqui)

Prémio


Recebi o prémio da Mateso do blogue aArtmus.
Obrigada.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Castanhos-leão?

Fecho os olhos e vejo os teus, castanhos de amêndoa. Lá dentro um sorriso. E é nesse alento que me deito vendo-os brilhar num improviso de paixão.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Devo-te um sorriso

Ofereçeram-me uma música e pediram-me um sorriso.
Eu ofereço um poema, uma música e a promessa de muitos sorrisos para breve.



O Sorriso
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

(Eugénio de Andrade)

E sempre que ela canta... eu fico a cantá-la...



Molti mari e fiumi
attraversero
dentro la tua terra
mi ritroverai
turbini e tempeste
io cavalchero
volero tra il fulmini
per averti

Meravigliosa creatura sei sola al mondo
meravigliosa creatura paura di averti accanto
occhi di sole mi bruciano in mezzo al cuore
amore e vita meravigliosa

Luce dei miei occhi
brilla su di me
voglio mille lune
per accarezzarti
pendo dai tuoi sogni
veglio su di te
non svegliarti
non svegliarti
non svegliarti....ancora

Meravigliosa creatura
sei sola al mondo
meravigliosa paura d'averti accanto
occhi di sole mi tremano le parole
amore e vita meravigliosa

Meravigliosa creatura un bacio lento
meravigliosa paura d'averti accanto
all'improvviso tu scendi nel paradiso
muoio d'amore meraviglioso

Meravigliosa creatura
Meravigliosa
occhi di sole mi bruciano in mezzo al cuore
amore e vita meravigliosa

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Insignificãncias

Pede-me a Ana da Porta do Vento que diga '6 insignificâncias' sobre a mim. Confesso que a tarefa é um pouco difícil, por ter de escolher só seis (não sou batoteira como ela!) e porque é também um desafio revelador... digamos que são as minhas taras e manias!!!
1 - Não ponho açúcar no café, no chá, no leite, no galão mas mexo sempre com uma colher... manias.
2 - Posso passar horas quieta a ver o mar, ou deitada na areia a ouvi-lo. Às vezes tenho a sensação que sou capaz de não pensar em nada. Esta é mesmo a minha melhor terapia para a alma. O mesmo se passa com o pôr-do-sol, que se reinventa a cada dia, em cada sítio.
3 - Tenho alguns pesadelos e falo durante a noite, respondendo a tudo aquilo que me perguntam. Quando quiserem saber os meus segredos, já sabem, sou sincera! Mas, às vezes, quando custa mesmo muito para voltar a adormecer, toco uma das caixinhas de música que me deu a Madrinha e acalmo.
4 - Gosto de ler a última página dos livros antes do fim (às vezes contenho-me!) e de reler o último capítulo muitas vezes, quando o final é triste... sempre na esperança de que o fim se altere como por magia. Ainda não me aconteceu! Os jornais esses leio sempre do fim para o príncipio, mania que sempre critiquei na minha mãe. Quando leio uma coisa de que gosto, costumo escrevê-la num caderninho... já tenho tantos... E às vezes passo horas a ler essas memórias.
5 - Gosto de cozinhar, mas sou a maior aldrabona no que toca a medidas, ingredientes e receitas, mas saio-me quase sempre bem. Gosto de cozinhar tudo, de inovar e há dias em que acordo com desejos de ser chefe de uma cozinha! Mas acho que ficaria obesa!
6 - Só duas coisas me fazem levantar da cama a meio da noite - uma fome incontrolável (omelete doce, travesseiros, torradas com manteiga e açúcar) e desejos de ler um poema que me paira na cabeça. O poema é mais saudável!
Passo o desafio à Mad., à Cleo e ao Imperador, à SF, à Sammia e ao Bruno.

Expiação

Este Sábado, estive em casa a ver o filme Expiação, em frente à lareira - um luxo. Já tinha lido o livro, uma delícia.
Ao filme faltam-lhe as entranhas das personagens que Ian McEwan tão bem sabe desvelar, num vocabulário primoroso. Há o desenhar da elegância das personagens, uma fotografia nítida que oscila entre a luz e a sombra, como as próprias personagens. O ponto alto do filme, a cena de Byron no fim da sua vida (Vanessa Redgrave), num monólogo formidável, onde se revela a verdadeira história, a maturidade de assumir um erro eterno. A sensação de que nem sempre é possível voltar atrás, nem sempre se pode emendar aquilo que se faz. A nítida consciência de um 'realismo insuportável' de que fala o autor, onde se confrontam o amor, a culpa e o perdão e a necessidade que temos de tentar reescrever a realidade para podermos estar em paz.

Recebeu um único Óscar, o merecido, pela banda sonora, a cargo do italiano Dario Marianelli.

Micronarrativa (VIII)


O Beijo, de Constantin Brancusi, em 1910


É em ti que penso quando chega a hora de sonhar e acabo por sonhar connosco. Lembro com a inspiração por entre suspiros, o toque do teu cabelo macio que quando deslizava a meu lado, fazia arrepios. É a tua pele morena que se estrelaça entre os meus sonhos de marés vivas, e os teus olhos azuis que me iluminam o caminho do sonho. Vem ter comigo, mesmo que seja só em pensamento. Abraça-te a mim. Senta-me a teu colo e deixa-nos ser madrugada.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Aos meus amigos



A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho

e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo

e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito

e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja

e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Voos da terra e do mar...

Dizias-me que voltaste ao surf porque tinhas saudades de voar nas ondas. E eu, que tenho medo desses voos, fui ver os teus. Ainda me tentaste levar contigo, mas eu preferi ficar a voar ao vento, no cimo da rocha, que em tempos me pareceu demasiado alta. Fui ver-te ao mar que desde sempre me abraçou e que a ti não te abraçava há muito. Tens saudades, não tens?

Sentei na rocha, de cabelo solto e de braço dado com os joelhos, oscilando entre um perder-te e reencontrar-te nas ondas do mar. Dizias-me adeus, entre duas ondas enroladas de um branco-luz. Sei que sorrias, apesar de não ver o teu sorriso, mas imaginava-o. Onda após onda, adivinhava o teu deslizar, a tua dança, para cá e para lá que terminava num deixares-te cair depois de uma onda acabada de desenrolar...

Outras vezes, quem me perdia era eu, por entre pensamentos que nem lembro quais de tão perdida que estava. Foi num desses meus voos de olhar perdido no horizonte, que me apanhaste, quando chegaste num abraço molhado e frio, de um mar que nem num voo aquece. Mas afinal, que quente me soube o teu abraço!

Agora via-te sorrir com uns lábios carnudos por entre a barba escura, salpicada de gotas de sal luzidio. Eu devolvia o sorriso, enquanto aterrava ao teu lado, num regresso à rocha e à terra.


- Voaste muito? - perguntei no sorriso.

- Menos do que hei-de voar contigo!

sábado, 23 de fevereiro de 2008

O que fica do que não ficou

Mas como é que eu não me apercebi que a Mayra também vai a Lisboa amanhã? Agora já está esgotado...



Fica para a próxima...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Bom fim-de-semana...


Sei apenas que vou. Ainda não sei para onde, com quem, nem quando. Sei apenas que vou.
Caminho por dentro
de ruas que o rio
deixa cor de vento
na maré vazia.
(in Ruas Anfíbias de David Mourão-ferreira)


Bom fim-de-semana.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Coisas que me dizem...


A vantagem de perder tudo, é que o medo é a primeira coisa que se perde.

Pedaço-sorriso



As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)



Olho o mar, enfim quieto e calmo, e sinto o doce balançar da maresia. Ondas que vêm e vão, como ciclos, num eterno retorno ao renascer. Como ele, renasce a alma, enfim quieta e calma, num doce apaixonar pelos pedaços-sorrisos da vida.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A pedido de uma família...


Há um abraço que nos enlaça e dançamos juntos, com os nossos olhos enredados no primeiro olhar da paixão.



Meus lindos olhos, qual pequeno deus
Pois são divinos, de tão belos os teus.
Quem, tos pintou com tal feição
Jamais neles sonhou criar tanta imensidão.

De oiro celeste,
Filhos de uma chama agreste
Astros que alto o céu revestem
E onde a tua história é escrita.

Meus lindos olhos, de lua cheia
Um esquecido do outro, a brilhar p´rá rua inteira.
Quem não conhece o teu triste fado
Não desvenda em teu riso um chorar tão magoado.

Perdões perdidos
Num murmúrio desolado
Quando o réu morava ao lado
Mais cruel não pode ser.

Este fado que aqui canto
Inspirou-se só em ti
Tu que nasces e renasces
Sempre que algo morre em ti
Quem me dera poder cantar
Horas, dias, tão sem fim
Quando pedes só pra mim
Por favor só mais um fado.


Nota: À M. que vai chorar a ouvir isto!

Só mais um fado...

Pode até ser
um dia sem sol e a noite sem lua
mas Lisboa sem o Tejo fica nua.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Passeio musical por Lisboa

Não gosto da chuva que cai irregular nestes dias de céu cinzento. Não uso guarda-chuva e corro por entre os passeios escorregadios, atravesso as avenidas num corropio de uma agitação citadina. Gosto mais de passear alumiada pelo sol da Primavera ou de mãos dadas com as folhas que caem no Outono. A chuva só ao fim-de-semana, nas tardes de lareira. Por isso, hoje, da minha janela vejo chover, vejo o mundo atarantado a fugir dela, enquanto eu vou passeando por Lisboa na voz de Ana Moura.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sabe bem...

Um presente da Martinha - recordando os fins do dia, no lado quente da saudade.
Obrigada por esta música, por esta letra e pelas palavras do teu e-mail, recordações das longas cartas do liceu - porque sabe bem...




Sabe bem voltar-te a ver
Sabe bem quando estás ao meu lado
Quando o tempo me esvazia
Sabe bem o teu abraço fechado

E tudo o que me dás quando és
Guarida junto à tempestade
Os rumos para caminhar
No lado quente da saudade

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Poema de embrulho

Um autocolante num embrulho de um presente muito especial que recebi...

Dizem?
Esquecem.
Não dizem?
Disseram.

Fazem?
Fatal.
Não fazem?
Igual.

Porquê
Esperar?
– Tudo é
Sonhar.


Fernando Pessoa

Prémios


Prémio recebido pelo Páginas da Nossa Vida, da Cleo e do JC.
Obrigada!!!
E um muito especial obrigada à Cleo, pelos gestos de amizade.

YOU MAKE MY DAY/MUITO BOM

Este foi o prémio que o Claras em Castelo deu ao Cais. Marta, muito obrigada.
Nota: A escolha de dezassete blogues é dificil, por isso aceitem o prémio os blogues nos quais comento.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Micronarrativa (VII)


Éramos manhã e éramos nós.

Na ponta da ponte junto ao rio, onde o barco nos esperava.


Na outra margem, o ontem a que haviamos de regressar e o pesadelo de sentir sobre nós esse fim.

Éramos manhã e éramos nós mas, para lá da margem de aqui, seremos eu e tu, num mundo onde os nossos pedaços não se poderão entrelaçar.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Bom fim-de-semana...

Prometeram levar-me aqui amanhã...


E amanhã não seremos o que fomos, nem o que somos.
(in Metamorfose de Ovídio)

Deixa-me ler que eu deixo-te dormir

Obrigada à mana Ana que me mandou este vídeo para alegrar a minha manhã e para me fazer deambular nas memórias felizes da nossa Rua Sésamo. Porque ela sabe que eu gosto de ler sossegada e muitas foram as vezes em que não me deu essa paz, saltitando ao meu lado. Estás perdoada sempre que fizeste de Egas e eu de Becas!



Nota: Para ti, minha querida, deixo este, de quando eu fazia de Egas e tu de Becas, não te deixando dormir.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Se eu voar...

Porque hoje estou com desejos de voar e não voltar; de levitar, subir a palmo e meio da beira-mar e ficar por ali.

Que é voar?
É só subir no ar,
levantar da terra o corpo,os pés?
Isso é que é voar?
Não.

Voar é libertar-me,
é parar no espaço inconsistente
é ser livre,leve,independente
é ter a alma separada de toda a existência
é não viver senão em não-vivência

E isso é voar?

Não.

Voar é humano
é transitório , momentâneo...

Aquele que voa tem de poisar em algum lugar:
isso é partir
e não voltar.


Ana Hatherly

Nota: poema roubado do Zoo Bizarro, um blogue que me dá sempre os bons dias. Obrigada JG.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

59 segundos de recordações...

Para a prima Clarinha... Não estivemos juntos por milhões anos, mas vamos estar por mais milhões. Sha la la la.




I bet we been together for a million years,
And I bet we'll be together for a million more.

Oh, It's like I started breathing on the night we kissed,
And I can't remember what I ever did before.

What would we do baby, Without Us?
What would we do baby, Without Us?

And there ain't no nothing we can't love each other through.

What would we do baby, Without Us?

Sha la la la.

Não fique triste assim...

- Não, não é de ti, mas de mim. Nos dias em que me sorris e abraças, me apertas fundo e me guardas no corpo, é como se cantasses para mim. Nos dias em que acordo triste, sem forças, são as tuas que me carregam e me põe no ar, a pairar. Fico ali horas sem fim, esperando que voltes para me buscar, para me levar de novo aos braços onde quero dormir. Já passou mais um dia.




Sente o céu, repara o mar
Há muito mais pra eu te mostrar
Não chore não, não fique triste assim

Eu te amo tanto que teu pranto
Fez-se canto pra mim
Sorria por favor, tenha esperança

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O que é um miminho?


Há uns tempos, perguntava a um dos meus pequenos-príncipes o que era um miminho. Ele respondeu:

- Miminho? É dar beijinhos apertados, abracinhos sem magoar, dar a mão, fazer olhinhos, sorrisos, fazer massagens… ser um anjinho... Ah, e dar festinhas na barriga!


Nota: Dedicado à Cleo. Que merece muitas festinhas na barriga, massagens nas costas e um anjo da guarda para cuidar da sua diabinha!

Dueto entre o céu e a terra


Alicia Keys & Frank Sinatra (Grammy 2008)

Learnin' The Blues

The tables are empty, the dance floor's deserted.
You play the same love song - it's the 10th time you've heard it.
That's the beginning, just one of the clues.
You've had your first lesson in learnin' the blues.

The cigarettes you light, one after another,
Won't help you forget her, and the way that you love her.
You're only burnin' a torch you can't lose.
But you're on the right track for learnin' the blues.

When you're at home alone,
The blues will taunt you constantly.
When you're out in a crowd,
The blues will haunt your memory.

The nights when you don't sleep, the whole night you're crying.
But you can't forget her, soon you even stop trying.
You'll walk that floor and wear out your shoes.
When you feel your heart break, you're learnin' the blues.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Como dar um abraço?

Tenho sempre curiosidade em saber como chegam ao meu blogue os desconhecidos, já que aos conhecidos quase que exijo a visita regular, enviando e-mails com o link. Supreendem-me as consultas ao StatCounter para saber quem me visita daqui e dali, de sítios que nunca ouvi falar e como aqui chegam... Relembrada pela Av. fui lá ontem... Surpreendente!

O mais comum é abrirem a minha página para saberem como se criam codornizes - lamento não poder ajudar, mas não percebo muito de aves. Tente aqui, pode ser que ajude. Depois de as criar pode apareça que eu ensino a cozinhar, combinado?

Outros (este/a vem muitas vezes), para roubar poemas à madrinha. Vês Madrinha? Obrigada por trazeres tantos curiosos ao meu Cais. Mas não me lembro de te ter escrito poemas, cartas algumas, mas poemas ainda não. Serás tua a pedi-los?

Quem veio para encontrar o perfume da bela adormecida, deve ter ficado desiludido... Talvez aqui haja a solução.

Para ler cartas de saudade, veio mais ou menos ao síto certo. Costumo perder-me em recordações, muitas vezes em narrativas, não em cartas, mas pelo menos um dos requisitos ficou satisfeito: matou a saudade?

Esta então nem compreendo! Abrir o meu blogue para encontrar um tal de Mirinho Salgueiro, lamento, mas desconheço. Devia?

Remédios vazios? Prometo passar a guardar as caixas dos meus comprimidos. Alguma preferência pelo medicamento? Depois mando por correio!

Receitas de azevias... não sou a melhor ajuda, nunca as consegui fazer! Não atino com a massa e acabo por comer o recheio às colheres! Talvez no próximo Natal.

Por último, mas a mais importante, há alguém que eu não posso deixar de ajudar:
Como dar um abraço?

Faça o seguinte: abra os seus braços e receba no seu corpo a pessoa que deseja abraçar e envolva-os no corpo dela. Aperte no pescoço (não o pescoço), nas costas e/ou na cintura. Não com muita força, para não a magoar, mas com a intensidade que desejar. Fica ao seu critério! Depois é ficar assim, perdido num abraço, o tempo que quiser (pode ver pela imagem). Feche os olhos e deixe-se abraçar também.

Se for um abraço romântico até pode levantar, levemente, o abraçado no ar. Se for um amigo que não vê há muito tempo, pode dar uma palmadinha nas costas ou prolongar o abraço. Faça o que sentir!

Espero que tenha sido útil. E que dê muitos abraços, quando experimentar vai gostar! Para sim, um abraço!



"Recordar um abraço não é pensar no que o motivou, mas ser abraçado nele mais uma vez"
(Pedro Cordeiro)

Parabéns miúda!

A Simone faz hoje 70 anos. Esta música lembra-me sempre um grupo de amigos que a cantava, recordando as músicas do Festival da Canção, em longas noites de Verão!




Lembrei-me dela para a dedicar a uma amiga que também faz anos hoje, infinitamente menos do que os da Simone, porque ainda é uma miúda. É menina de olhar atento, sorriso brilhante e palavras de magia. Nas nossas amizades dos dias, descobrimos os segredos uma da outra sem ser preciso dizer, porque nos olhares e gestos se adivinham. Dizes que já me vais conhecendo e mesmo assim ainda és minha amiga, apesar das mil imperfeições. Fazes-me rir, mesmo nos dias tristes e adivinhas os 'meus azuis' por dentro do azul dos meus olhos. E eu a achar que era boa actriz! No nosso caminho, saltamos as pedras e os muros e quando eu não tenho coragem lá me dizes - Não tenhas medo, tu consegues! E consigo! Os amigos são a nossa coragem nos dias mais escuros, são a nossa força para voar. Obrigada pela tua amizade! Um grande beijinho por hoje!

Eu também...

Umas vezes estou redondo, outras quadrado, outras cheio de picos, outras liquefeito, outras não estou sequer: deslizo por aí armado em nuvem…

Se me interrogarem

- Como estás?

explico que não estou redondo nem quadrado. Neste momento acho-me mais uma espécie de losango.


- Estou losango

quem interroga a olhar para mim sem entender:

- Losango?

e eu

- Sim, losango, nunca te sentiste losango?

Nunca se devem ter sentido losangos. Há alturas em que me acontece pensar que as pessoas são esquisitas mas deve ser problema meu. Aposto o que quiserem que é problema meu.

António Lobo Antunes, in Visão

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Bom fim-de-semana


(Cais de embarque, fotografia de Maria Isabel Baptista)
BOM FIM-DE-SEMANA
***
Porque desejo o que não preciso?
Porque busca a minha alma, como o fogo, ou uma abstracta ânsia incandescente, tudo o que fica mais além?
(Fernando Pessoa)

As 12 palavras...

Pede-me a Ana que nomeie as minhas 12 palavras preferidas. Tarefa difícil, confesso. Elas são os brinquedos da nossa língua, que se enrola e desenrola numa dança dentro da boca para as fazer nascer, ou de um par de dedos que as desenha no papel, ou pontas deles que saltitam entre os quadrados do teclado, como se fizessem nascer uma melodia das teclas de um piano. Mas as palavras também nascem na nossa imaginação silenciosa, no olhar e no sorriso.
Aqui fica a minha selecção...

mar
horizonte
poema
onda
íntimo
abraço
desejo
silêncio
solidão
malabarista
amante
pairar





Passo o desafio à Mad., à Cleo, à Marta, à Sammia, à M., à Clarinha, à SF, à Addiragram , ao Huck, ao Bruno, ao Miguel e um pedido especial ao Torquato, para que faça um poema com as suas doze palavras.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Palavras de poeta

Porque era o que estava escrito numa parede do quarto onde ficámos na Coruña, muito bem instalados, tratados como família. Uma hino perfeito às palavras...

Las Palabras
de Pablo Neruda

...Todo lo que usted quiera, sí señor, pero son las palabras las que cantan, las que suben y bajan.

Me posterno ante ellas... Las amo, las adhiero, las persigo, las muerdo, las derrito... Amo todas las palabras. Las inesperadas... Las que glotonamente se esperan, se escuchan, hasta que de pronto caen...

Vocablos amados. Brillan como piedras de colores, saltan como platinados peces, son espuma, hilo, metal, rocío... Persigo algunas palabras...

Son tan hermosas que las quiero poner en mi poema. Las agarro al vuelo cuando van zumbando, y las atrapo, las limpio, las pelo, me preparo frente al plato, las siento cristalinas, ebúrneas, vegetales, aceitosas, como frutas, como algas, como ágatas, como aceitunas... Y entonces, las revuelvo, las agito, me las bebo, las trituro, las libero, las emperejilo...

Las dejo como estalactitas en mi poema, como pedacitos de madera bruñida, como carbón, como restos de naufragio, regalos de la ola.

Todo está en la palabra. Una idea entera se cambia porque una palabra se trasladó de sitio, o porque otra se colocó dentro de una frase que no la esperaba...

Tienen sombra, transparencia, peso, plumas. Tienen todo lo que se les fue agregando de tanto rodar por el río, de tanto trasmigrar de patria, de tanto ser raíces... Son antiquísimas y recientísimas. Viven en el féretro escondido y en la flor apenas comenzada...

Qué buen idioma el mío, qué buena lengua heredamos de los conquistadores torvos. Estos andaban a zancadas por las tremendas cordilleras, por las Américas encrespadas, buscando patatas, tabaco negro, oro, maíz con un apetito voraz.

Todo se lo tragaban, con religiones, pirámides, tribus, idolatrías... Pero a los conquistadores se les caían de las botas, de las barbas, de los yelmos, como piedrecitas, las palabras luminosas que se quedaron aquí, resplandecientes... el idioma. Salimos perdiendo... salimos ganando. Se llevaron el oro y nos dejaron el oro. Se llevaron mucho y nos dejaron mucho...

Nos dejaron las palabras.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Memórias felizes...

Porque estou em casa com uma febre chata, uma alergia insuportável e umas dores de pescoço que já não posso, resolvi pensar nas manas e no que é bom estar doente quando estamos todos juntos... Agora, quem é que me faz uma torrada?

Quando elas nasceram eu tinha três anos. Queria que fossem dois, mas vieram duas. Fui eu que adivinhei o número, mesmo antes da ecografia. Vi a barriga da minha mãe crescer sem parar, dentro de um fato de banho lindo, para que as meninas aparecessem mesmo a meio do Verão. A minha mãe era a grávida mais bonita do mundo. Cerregava aquelas duas pestes que viriam a dar-me grandes trabalhos, ainda hoje! A Ana chorava sem parar e foi eleita a campeã da birra, até tinha um quarto especial dos castigos, onde podia amuar à vontade, deve ter sido aí que aprendeu a cantar tão bem. A Pipa era pelo contrário a mais doce criatura, sempre caladinha, sempre quietinha, sem dar grandes confianças, mas pela calada a mais reguila, que me roubava definitivamente os brinquedos e que tinha os amuos mais subtis do mundo.

Às vezes, quando nos vejo em fotografias ainda sinto o calor do nosso trio de sorrisos. Sempre de igual, de vestidos, saias de pregas, camisas de dormir e roupões e aquele gancho a prender o cabelo. Sempre fizemos duplas de amizade, à vez... eu era quem ficava mais vezes de fora. Concorrer com aquela união uterina era quase impossível. Muitas vezes quis um irmão para o desempate, mas ele nunca chegou. Crescemos tanto que hoje são as duas mais altas do que eu, mas continuamos a fazer pares de amizade muitas vezes, outras já fazemos trios. É a vantagem de se crescer.

É por recordar essa infância que ponho a cena de um filme que tantas vezes dançámos e cantámos e que me traz tantas saudades. Porque ontem almoçámos as três e sabe muito bem voltar aos sítios onde fomos felizes juntas.

Da salsa ao merengue...

E pensar que já dançamos assim... em par fechado, volta para fora, volta para dentro, volta os dois, primeiro eu, depois tu... afasta e junta e volta no carrocel... Quem diria!




DESAFIO: Quem se atreve a tentar?

The Hours in 9 minutes

Um presente antecipado, em jeito de matiné!
Um dos meus filmes preferidos que irei rever agora, uma companhia para um fim de tarde de febre. Um dos meus romances favoritos a que irei voltar esta noite, para recordar as frases marcadas. Uma das melhores bandas sonoras de sempre, pelas mãos de Philip Glass.




Dear Leonard. To look life in the face, always, to look life in the face and to know it for what it is. At last to know it, to love it for what it is, and then, to put it away. Leonard, always the years between us, always the years. Always the love. Always the hours.

Momentos perfeitos


('Viajante junto ao mar de neblina' (1818), por Caspar David Friedrich/ fotografia de PC)



Há na vida momentos em somos tudo e nada. Em que somos um quadro, uma música, uma fotografia. Quando cheguei a esta ponta da ria, algures na Costa da Morte, foi deste quadro que me lembrei... momentos perfeitos!

É a beleza do simples...


Saio pela manhã ainda enevoada, faço o meu caminho habitual, como se pairasse sobre o mundo sem realmente existir, sem ver, sem sentir e, no ar, passam bolas de sabão nascidas do sopro de uma criança... é a beleza do simples. Já no metro, perdida entre atropelos matinais de quem não ouve o mundo, um livro e um poema sobre bolas de sabão... é o prazer de uma coincidência.

As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.
(Alberto Caeiro)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Noite de regresso...


Chegar exausta, desejar uma cama e uma almofada alta. Voltar a pôr música, um Oceano Pacífico, num serão como os de antes, em adolescente, ficando à espera que ele passasse para que eu me fosse deitar, o meu despertador do sono, toque para fechar o livro. Tantos livros cantados, amantes de uma noite só, muitos roubados, noite após noite, da estante de meu pai, por os julgar ainda proibidos. E eram! Ou então os recomendados no dia, comprados no dia, lidos na noite, tal como o peixe fresco que se compra na praça, de manhã, para o jantar. Ainda cheiravam a novo e tinham o toque de fechado, com os segredos por revelar. Os outros, os que roubava e lia depressa, escondida debaixo da cama, cheiravam a antigo, e tinham o toque das folhas amareladas pelo tempo. Cheiravam às estantes do meu avô.

É essa a minha companhia desta noite, um livro já começado, que viajou comigo até à Galiza, mas que pouco se revelou ali, trocado por um de poesia, mais amigo das leituras no mar branco. No conforto da manta, da cama, das almofadas, sempre muitas, relembro esse passado que me parece tão distante. Mas afinal não...




Nessa hora, poucas coisas me fariam levantar, só duas mesmo – fome ou desejos de um poema, que vai reaparecendo em alguns versos na memória, mas eu quero-o todo, por inteiro. A miopia leva-me a trocar o Caeiro pelo Campos no alto da estante de poesia e a preguiça a entregar-me às Odes, ao Opiário e à Tabacaria, ao invés do Guardador de Rebanhos, que tanto queria, porque "pensar incomoda como andar à chuva", chega mesmo a doer, como se caísse em bategas. Vence-me o cansaço de uma viagem, de um sonho e de um caminho quase tão grande como a volta ao mundo.




E assim adormeço.

Micro-narrativa (VI)

Sea serpents IV (detail), Gustav Klimt


Quero-te como quem se quer a quem se ama. Nas madrugadas em que te vais depois de nós, fica comigo o que restou de ti – teu cheiro, o calor na cama e parece que ainda sinto as tuas mãos percorrendo o meu corpo. Na cama fico apenas eu, para lá de uma porta fechada de mansinho para que doa menos a tua partida, e ainda os vestígios de um beijo doce no rosto que já dorme:

- Promete-me que para a próxima vais ficar para amanhã!

Voltei...


O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.


(Álvaro de Campos)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Volto já...

O Cais vai de férias até quarta, deixo-vos dois presentes:

- uma música para dançar...


(Amy Winehouse - Tears Dry on Their Own)


um poema para recitar...

Eu quero amar, Amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder...Pra me encontrar...

("Amar" - Florbela Espanca in Amor é Poesia)

Cantinho da biblioteca (III)


Richard Wagner - Tristan und Isolde

dirigido por Georg Solti (21 October 1912 – 5 September 1997)

O livro que vão ler

Quis, desta vez, contar-lhes a história de um músico, de um desses homens que escrevem com um alfabeto de estrelas num riscado de cinco linhas, e destas arrancam as mais belas e estranhas harmonias, com se elas fossem as cordas de uma harpa.


in O piloto do navio fantasma - pequena história de Wagner e da sua música genial, Adolfo Simões Müller