Porque estou em casa com uma febre chata, uma alergia insuportável e umas dores de pescoço que já não posso, resolvi pensar nas manas e no que é bom estar doente quando estamos todos juntos... Agora, quem é que me faz uma torrada?
Quando elas nasceram eu tinha três anos. Queria que fossem dois, mas vieram duas. Fui eu que adivinhei o número, mesmo antes da ecografia. Vi a barriga da minha mãe crescer sem parar, dentro de um fato de banho lindo, para que as meninas aparecessem mesmo a meio do Verão. A minha mãe era a grávida mais bonita do mundo. Cerregava aquelas duas pestes que viriam a dar-me grandes trabalhos, ainda hoje! A Ana chorava sem parar e foi eleita a campeã da birra, até tinha um quarto especial dos castigos, onde podia amuar à vontade, deve ter sido aí que aprendeu a cantar tão bem. A Pipa era pelo contrário a mais doce criatura, sempre caladinha, sempre quietinha, sem dar grandes confianças, mas pela calada a mais reguila, que me roubava definitivamente os brinquedos e que tinha os amuos mais subtis do mundo.
Às vezes, quando nos vejo em fotografias ainda sinto o calor do nosso trio de sorrisos. Sempre de igual, de vestidos, saias de pregas, camisas de dormir e roupões e aquele gancho a prender o cabelo. Sempre fizemos duplas de amizade, à vez... eu era quem ficava mais vezes de fora. Concorrer com aquela união uterina era quase impossível. Muitas vezes quis um irmão para o desempate, mas ele nunca chegou. Crescemos tanto que hoje são as duas mais altas do que eu, mas continuamos a fazer pares de amizade muitas vezes, outras já fazemos trios. É a vantagem de se crescer.
É por recordar essa infância que ponho a cena de um filme que tantas vezes dançámos e cantámos e que me traz tantas saudades. Porque ontem almoçámos as três e sabe muito bem voltar aos sítios onde fomos felizes juntas.