quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Uma pedra no meio do caminho

A propósito de uma pedra que me entrou no sapato, lembrei-me deste poema de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros do século XX e um dos meus preferidos. A sua obra foca os problemas do dia-a-dia, a partir de uma experiência pessoal. Por isso, são personagens da sua poesia o indivíduo, a família, os amigos, a terra natal ou as questões existênciais.
Um beijinho à Joana e à Madalena que estão do lado de lá do oceano, mais perto dos olhos do Chico Buarque do que eu!
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No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

8 comentários:

Mad disse...

Consola-te... daqui ao Rio é quase metade do caminho que daí para lá. Não estou tão perto como gostaria, mas conheço um primo, Marcelo Buarque de Holanda, que por sinal é parecido com ele. Nada mau, hein?

ana v. disse...

Este poema do Drummond levantou grande polémica: os leitores dividiram-se entre os que achavam que estavam a ser gozados e os que adivinharam nele hermetismos profundos. No fundo, eu acho que era uma provocação: a desconstrução da própria poesia e da pompa que geralmente a acompanha. Drummond de Andrade também é um dos meus poetas brasileiros preferidos.

Beijinhos

Anónimo disse...

Mad, não me parece mal não senhora! Mas olha que eu também não me posso queixar que tenho cá 'un chico', não Buarque, nem de Holanda... mas também canta, dança e encanta! Ah! e tem uns olhos verdes lindos!!!!!!! beijinhos

Ana, ainda bem que também gostas do poeta. Sempre achei este poema engraçado e nunca menor por não tratar temas elevados e nobres (será que os há?), mas por ser o retrato do dia-a-dia, por não poder ser mais próximo do comum dos mortais não-poetas. Também concordo com a questão da desconstrução como provocação. Afinal de contas Drummond era um provocador, ou não fosse ele um percursor do movimento Modernista brasileiro, a proclamar a liberdade das palavras e o fim das covenções da métrica e da rima! Gosto também da poesia erótica dele, que aparece no período final do seu trabalho. É bonita!

beijinhos e obrigada pelo teu contributo

Anónimo disse...

A poesia das coisas pequenas tem uma beleza que muitos não conseguem ver ou, se a vêem, não sabem ou não querem descrever. Admirdo Drummond pela sua destreza nos assuntos grandes e nos pequenos, porque é de uns e de outros que se faz a vida, e será tão monótona uma vida sem coisas grandes como sufocante uma vida sem coisas pequenas.

Passo a palavra ao mestre, com outro poema que foge aos cânones. Em adenda, um refrão do nunca-demasiado-referido Chico Buarque, que só pode ter sido inspirado em Drummond.

Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.



Agora o Buarque, em Flor da idade
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha


E beijinhos, afectos e amores para todas vocês!

Anónimo disse...

Muito se ama esta gente e ama toda a quadrilha... Só não percebi quem é que o Pedro amava? Mas enfim.
Já agora, eu faço aqui um elogio PÚBLICO da beleza dos teus olhos e nem um obrigadinho???

beijinhos poucos

Anónimo disse...

Sobre os elogios, ocorre-me repetir o que um amigo dizia das enjoativíssimas condecorações do 10 de Junho: "Não se pedem, não se recusam, e sobretudo não se usam".

Dito isto, alguns há que caem no goto. Elogios, que para as condecorações já não há saco.

Anónimo disse...

Ah, e beijinhos. Muitos. Os poucos que mandaste eram óptimos...

Anónimo disse...

Toma lá mais uns beijinhos... para os olhos verdes mais bonitos do planeta e arredores...