quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A primeira chuva

A primeira chuva de Outono apanha-nos sempre desprevenidos: a roupa por apanhar, as sandálias, aquela camisa de manga curta... enfim, nada que não se possa resolver! Finalmente, parece que o Outono chegou! E estou contente com isso, gosto de ver o andar das estações, de ver as folhas cair e de ver as pereiras em flor, mas agora gosto de ter frio! Já uso a mantinha e, mais dia menos dia, hei-de usar o saco de água quente para me aquecer os pés! O dia está tristonho e cinzento, apetece ficar em casa a beber chá e a comer 'paizinhos' (receita da avó Hortense), enrolada numa manta a ver filmes, ou a ler um livro e a ouvir discos de vinil... Sabe tão bem... Mas não, a vida real chama-nos e pede-nos para trabalhar! Enfim, lá terá de ser! Mas nada melhor do que recordações. Deixo-vos um poema de que me lembrei hoje e que inaugurou a minha manhã, acompanhado de uma fotografia de um pôr-do-sol de Outono, no último Domingo... ainda a recordar o fim-de-semana romântico, a braços com panelas de doce!
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Ondas que descansam no seu gesto nupcial
abrem-se caem
amorosamente sobre os próprios lábios
e a areia
ancas verdes violetas na violência viva
rumor do ilimite na gravidez da água
sussurros gritos minerais inércia magnífica
volúpia de agonia movimentos de amor
morte em cada onda sublevação inaugural
abre-se o corpo que ama na consciência nua
e o corpo é o instante nunca mais e sempre
ó seios e nuvens que na areia se despenham
ó vento anterior ao vento
ó cabeças espumosas
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões
ó eternidade do mar ensimesmado unânime
em amor e desamor de anónimos amplexos
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilante
só mar ó presença ondulada do infinito
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!
(António Ramos Rosa - Facilidade do Ar - Lisboa, Caminho, 1990)

5 comentários:

Anónimo disse...

Não resisto...
Dizem (as más linguas) que já não há meias estações, eu descordo por completo, mesmo que o sol teime em ficar, o friosinho e a natureza afirmam a cada dia que passa que existem e que querem (e muito bem!) continuar a existir. O cheiro da terra molhada, o chão coberto de folhas, a noite que caí mais cedo, a mantinha nos pés, o senhor das castanhas, a mudança da hora, o primeiro casaco, os filmes de tarde, os lanches com a família, as doces e saborosas compotas...tudo!
Hummm, que bom ter o previlégio de partilhar isto tudo contigo e com quem passeia por este cais!
Um beijinho (e que tal acabar a noite com umas bolachinhas com a tão falada marmelada e um chásinho a acompanhar?!, bom proveito!)

Mad disse...

Pois aqui pelos trópicos não há Outono, nem Inverno, nem Primavera... é só um calor desgraçado o dia todo e todos os dias. E ou faz vento ou chove. Nada muda. Tenho saudades das camisolas de gola alta, dos casacões, dos polares (deve estar tudo a cheirar a mofo), de uma boa lareira, de um bom chá (aqui só por doença), das botas de montanha, dos narizes roxos do frio das manhãs geladas do Baleal... Ai, ai.

Sofia K. disse...

Quequedenoz: As meias estações são aqueles dias em que é Verão e não faz sol e até chega a chover, ou que é Outono e está um sol de morrer! Vou pedir ao Pedro para me fazer esse chazinho e a pôr marmelada nas bolachas, antes de ir dormir! Obrigada pela ideia!Sabes que a marmelada tem imensos candidatos por mail? Temos de nos ver para te dar uma tacinha!

beijo

Mad. o friozinho do Baleal é fantástico, mas nem por essas bandas tem feito frio! Ainda ponho aqui umas fotografias de lá para tu matares saudades! Invejo o teu sol, deve dar um bom bronze, daqueles que até uma branquela como eu fica morena! Mas olha que invejo os camarões... troco por quilos de marmelada! Se pudesse mandava por avião e esperava que mandasses os camarões... eu adoro! Mas parece que tenho de te ir visitar!

beijo

Anónimo disse...

Para que conste: bolachas não houve, mas acabou por ser a dona do cais a fazer o chazinho. Que estava óptimo.

Mad e Quequedenoz: ao ler-vos, quase me passa a irritação pela mudança da hora no próximo domingo. Também adoro a meia-estação!

Sofia K. disse...

Menos uma hora... não gosto nada disso... vou comer mais castanhas para passar essa melancolia...

beijinhos
p.s. Os camarões talvez me fizessem pensar que estava no Verão... ou umas santolas, também serve!