sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Água da Índia

Uma viúva deve sofrer até à sua morte, ser comedida e casta; A mulher virtuosa que se mantém casta após a morte do marido irá para o céu; Uma mulher infiel ao seu marido renasce no ventre de um chacal.’
(As Leis de Manu, capítulo 5, versículo 156-161, Dharamshastras)

A terceira parte da trilogia cinematográfica dos Elementos - os anteriores foram "Fogo" (1996) e "Terra" (1998) -, "Água" (2006), retrata a vida das viúvas na Índia na década de 1930, assim como a condição das mulheres e o esmagamento da sua dignidade. Dizem os Shastras que uma mulher é metade do seu marido, enquanto ele está vivo. E quando o marido morre, as mulheres também ‘meio-morrem’, logo, uma meia-morta não poderá sentir dor. Mas a verdade vem da boca da pequena Chuyia, que ficou viúva com apenas oito anos, sem nunca ter conhecido o marido, mas proibida de voltar a casar. A sua condição de viúva reflecte-se no estigma do cabelo rapado e nas privações económicas com que vivem as viúvas. Mas é ela quem representa, de certo modo, uma evolução que vinha sendo anunciada por Gandhi. É ela que diz: ‘Uma meia-morta pode sentir dor, porque ainda está meia-viva’.

Chuyia vive internada numa "ashram", uma casa de recolhimento para viúvas, onde deverá permanecer até ao fim da vida, privada das alegrias da infância. Esta personagem é, ao mesmo tempo, carismática e comovente, sempre com o seu ar inocente e um sorriso puro. A realidade que nos é apresentada é ainda mais crua quando se trata de uma criança. É uma história de extrema sensibilidade e envolvência.

Destaco o trabalho de fotografia de Giles Nuttgens e ainda a actriz Lisa Ray, no papel de Kalyani, a mais bonita de todas as viúvas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Um filme que verei com toda a certeza, depois deste belo resumo. A Índia é para mim um território mágico, apesar (ou talvez até por isso) de todas as incongruências de que é feita a sua história. Vou lá em breve (já em Dezembro!!!) para ver com os meus olhos tudo o que ando há tempo tempo a prever.
Obrigada pela dica, afilhada.
Um beijinho

Anónimo disse...

Que inveja, madrinha. Também para mim, que lá tenho antepassados e familiares vivos, a Índia é terreno apetecível. Quanto ao filme, é uma lição. Ou várias: resistir, amar, conseguir ser feliz com pouco, conseguir sê-lo apenas por se aumentar ligeiramente a felicidade de alguém. Triste, belo e até actual.

Anónimo disse...

Ai que sorte madrinha... é o que se chama transformar a imaginação em realidade! Nós queriamos ir para o ano, talvez dê! Mas é sem dúvida, uma das minhas viagens de sonho, pelos cheiros, pelas cores, pelos sabores...

beijinhos

Anónimo disse...

nossa!Ser viuva na india não é bringuedo não
affff
Estou impressionada, chocada com o que acabo de ler. Foi novidade total para mim e te confesso que bateu uma tristeza… é cruel a realidade dessas viúvas.