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Na sala de aula, copiávamos desde sempre uma pela outra, mandávamos bilhetinhos e escrevíamos cartas de amor em conjunto aos nossos respectivos amores. O D. gostava de mim, mas era a ela que lhe tremiam as pernas quando ele aparecia na sua bicicleta verde. As nossas conversas à porta da escola eram feitas em 'estrangeiro', para nos armarmos em crescidas, mas aquilo não era língua nenhuma, nem nós nos percebíamos. Cantávamos a Laura Pausini com as letras todas trocadas. Depois das aulas, passávamos horas ao telefone e eu sentia o cheiro do arroz-doce da mãe dela através do telefone! Andávamos sempre à chuva, porque nunca gostámos de guarda-chuva, mas antes de ela ir para casa ia secar a roupa e o cabelo à minha. Crescemos sempre juntas e fomos andando de escola, sempre juntas.
Juntas vivemos a maior aventura, armadas em espiãs de alta classe – descobrir o que estava para lá de uma porta fechada a sete chaves, numa sala ao fundo da nossa escola. Como boas espiãs levámos luvas para não deixar impressões digitais e lanternas para espreitar pelo buraco da fechadura. Tentávamos arrombar a porta, mas isso fazia muito barulho e, magrinhas como éramos (ela ainda é!), não íamos ser capazes. Só havia uma maneira de lá entrar: saltar uma parede que não ia até ao tecto ou, pelo menos, espreitar por ela… foi ela que o fez, porque era mais alta! Mas foi também ela que se magoou, porque eu a deixei pendurada na parede, sem a ajudar… não tinha forças. Nunca chegámos a saber ao certo o que lá estava. Sabíamos que eram livros, outras coisas, nada de importante para nós, que julgávamos ir encontrar cadáveres e tesouros (imaginação fértil!). Mas, para nós, foi como descobrir o baú do tesouro e ele estar vazio. Uma desilusão.
Desde então que não penso nesta história, mas, na sexta-feira, falava eu da minha biblioteca, num primoroso jantar em casa da minha mãe (como são todos os que ela faz, assim se conserve!), quando me disse:
- Sabes, os livros da tua biblioteca estiveram anos fechados numa sala da escola primária! Uma sala lá ao fundo, que estava sempre fechada. Lembras-te?
E eu só tive tempo de abrir um sorriso e de dar pulos de alegria – afinal. aquilo era mesmo um tesouro e agora era meu! Nem queria acreditar! E esteve à minha espera, à espera de que eu pegasse em cada um dos livros e os ordenasse, para depois partilhar este nosso tesouro com o mundo. A vida é maravilhosa, estas coincidências são sempre deliciosas.
Por isso Mada., hoje partilho contigo este nosso tesouro e espero uma visita tua, para que possamos apreciá-lo as duas!
4 comentários:
achei melhor dormir sobre o assunto, porque ontem estava demasiado emocionada para comentar...foi um regresso à infância. à nossa. lembrar coisas que a minha memóri já não alcançava, como secar o cabelo em tua casa, e a lingua inventada à porta da escola, na esperança de sermos muito cultas com 7 anos.
foram tempos felizes, crescemos juntas literalmente, e és quem está na minha vida ha mais tempo. pessoas entraram, e passaram.davids,luizes,pedros pereiras and so ons.
combinavamos toilletes para o dia seguinte, jardineiras com a alça propositadamente descaída, e parecia que o mundo ia ser n osso. e ainda vai ser, ainda vai ser.
esse tesouro é um verdadeiro regresso à infancia,merece ser um conto mesmo. como o tesouro de infancia que a Amelie encontra escondido na parede...e o devolve ao seu dono. esse é o nosso. na altura uma desilusão que nao compreendemos.quem sabe se a dimensao nao sera maior?there's no such things as coincidences.
e receber boleia inesperada de uma a miga é sempre bom. desde os 7 que falamos a 300 rotações, e isso vai sempre continuar connosco.
beijinho*
quinta-feira pomos a conversa em dia.os tesouros todos.deprimentes ou não*
Ah, eu conheço isto. De onde?...
M. pois minha querida hoje posmos tudo em dia, ou pelo menos actualizamo-nos, porque há coisas que nos separam, mas há muitas mais que nos unem, sempre! Andamos desencontradas, mas os nossos encontros são sempre de amizade, de cumplicidade e de muita história!
um beijinho enorme
Pois é Mad. há histórias parecidas... as amizades são assim!
beijinhos
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