segunda-feira, 24 de março de 2008

Sensação de eternidade

Há livros que nos marcam. Ficam as histórias de amor e de ódio, de aventuras, de sonhos, e as paisagens que se desenham na nossa imaginação e que à vezes nos assaltam. Há frases que nos acompanham para sempre, sentimentos, às vezes uma saudade imensa depois da morte, da partida após a última página. Por vezes, há um voltar atrás, um reler e reconhecer nas páginas já lidas as histórias de outrora, mas fazendo renascer em novidade os pormenores que nos escaparam. Às vezes, deixo os livros meses sem fim em cima da mesa de cabeceira, um misto de preguiça em devolvê-los ao lugar na estante e de desejo de continuar a lê-los. Outras vezes, recupero o livro e trago-o de volta ao meu mundo, para relê-lo na diagonal, as páginas direitas de que mais gosto, as da esquerda que prefiro e aquele parágrafo no meio. E que vontade dá de me apoderar de todas as palavras e frases, de todo aquele sentir por inteiro de amores que não são meus, de histórias que queria ter para mim.

No sábado, fui ver El amor en los tiempos del cólera, adaptação de um dos meus romances preferidos de García Márquez. Gostei! Não ficou aquele sabor que recordava do livro, de eternidade, de permanência num estado mais ou menos levitante do amor. Ganhei algumas imagens e cenários que já não recordava ou que não tinha imaginado assim.

Mas, mal pude, fui reler 'aqueles' parágrafos que tão bem recordava, que ainda me traziam memórias de umas leituras matinais à beira-mar e de umas tardes ao pôr-do-sol, no Verão que já me parece tão distante. Mas elas continuavam ali, no seu sítio, nas mesmas páginas, que recordei com imenso prazer e, ainda mais, recuperei a sensação de eternidade.





(Shakira - Pienso en ti)

5 comentários:

Huckleberry Friend disse...

Miúda do meu cais, adoro quando escreves sobre gostos que partilhamos. Também isso faz nascer sensações de eternidade! Ainda te lembras do dia em que foste buscar Pessoa a meio da noite, mas os heterónimos resolveram trocar-te as voltas? ;)

Estou a acabar de ler El amor en los tiempos del cólera, romance tão formidável que assusta um bocadinho a ideia de o terem adaptado ao cinema. Vou ver, claro, um bocadinho de pé atrás, mas disposto a deixar-me surpreender. Nem que seja pela banda sonora: não conhecia a amostra conjunta, é linda!

Muitos beijinhos num estado mais ou menos levitante!

Unknown disse...

Esta no topo dos meus livros prediletos Sofis. Mas ando a tantas longe de tudo na internet por causa do trabalho que imagina ler agora. Isto entristece-me :/

Mas a saudade dos amigos venho findar. Beijos a você com seus sorrisos virtuais que iluminavam meus dias.

ana v. disse...

É o meu favorito do Gabo, Sofia. Acho que já te tinha dito isto (a madrinha está velhota e já se repete...). Gostei do filme, claro. A fotografia é magnífica, as interpretações do Bardem e da Montenegro valem o filme, por si sós. Mas fica ainda muito longe do livro, como não podia deixar de ser.
Este teu texto está muito bom, miúda. Tens olho para a crítica, literária ou de cinema.
Beijocas

António Conceição disse...

De Gabriel García Marquez, o melhor é "La increíble y triste historia de la Cándida Eréndira y su abuela desalmada". Digo eu, que sou borgeano.

Sofia K. disse...

Nem me fales desse dia, Huck! Eu queria o Campos e veio � m�o o Caeiro... at� fiz beicinho, mas mesmo assim, eles continuavam trocados!
E v� se acabas o livro, para pdoermos coment�-lo!
beijinhos

Sammia, tamb�m no meu.
Como est� a correr essa vida de romance? Espero que bem. Beijinhos aos dois

Aninhas, est�s velhota, mas continuas distra�da, isso n�o passa com a idade! A fingir que ningu�m te ouviu!

O Bardem e a Montenegro s�o fabulosos e a fotografia apetece guardar, ou melhor, estar l� a passear no Nova Fidelidade, n�o �?

Mas olha que a companhia tamb�m era boa, ou n�o? ;)

beijos

Funes, bem-vindo! Esse ainda n�o li, mas se o diz, vou ler, tamb�m. Tamb�m gosto de Borges, mas j� n�o leio h� alguns anos!