sexta-feira, 27 de junho de 2008

Férias

Chegaram as férias...

Se eu voltasse a nascer, e
as minhas mãos me ensinassem o caminho
que vai do coração ao mundo, e
os meus olhos me abrissem o círculo
que o mar desenha no horizonte,
e o meu nariz respirasse a luz que a manhã
solta de dentro da névoa, e os meus lábios
pedissem o pão de estrelas que as aves
trocam entre si, e os meus passos me conduzissem
para onde ninguém precisa de voltar,
o tecido da minha vida seria transparente
como o vidro da janela que não abro,
o fio que vou puxando seria eterno
como os números que contam os dias de um deus,
a tesoura da noite ficaria na caixa
que não precisei de abrir. Se eu voltasse
a nascer, e as velas do sonho me envolvessem
com o linho do seu vento.
Viagem, Nuno Júdice
Volto dia 6 de Julho

Éme de Mãe



Afinal o coração de mãe não é só um músculo que bate sem parar.


É um lugar mágico onde acontecem as mais extraordinárias das coisas...


O coração de mãe está ligado a cada coração de filho por um fio fininho, quase invisível.


É por causa deste fio que tudo o que acontece aos filhos faz acontecer alguma coisa dentro do coração de mãe.


Coração de mãe, de Isabel Minhós Martins, com ilustrações de Bernardo Carvalho

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Agarra-me esta noite...

A música que me apetece cantar...


Pedro Abrunhosa - Parte de Mim

Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres
Assim,
Meu corpo é o teu mundo,
Um beijo um segundo,
És parte de mim.

Let´s dance!

Para não dizerem que eu ando às avessas com o mundo e que o meu olhar anda menos brilhante... estou quase a chegar à saída do Labirinto, só mais um dia!
Let's dance que amanhã o dia é meu!
(eu prometi avisar os mais distraídos!)


(Shakira feat. Wyclef Jean - Hips Don't Lie - Live at Grammy)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Labirinto

Não perguntes, que eu não respondo.
Não me olhes, que eu não sei o que dizer.
Não me digas nada, que eu não sei o que fazer!




(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio, Cântico Negro

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mi abanico

Já não saio de casa sem ele..Há tantos modos de se servir de um leque que se pode distinguir, logo à primeira vista, uma princesa de uma condessa, uma marquesa, de uma routurière. Aliás, uma dama sem leque é como um nobre sem espada. (Madame de Stäel)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Fugir


Salomé de Bahía - Outro Lugar


Às vezes é o que dá vontade - fugir para bem longe!

Fugir daqui, de qualquer lugar, para lugar nehum.

Deixar para trás o mundo, o céu e as estrelas, levar o amor e a brisa do vento.

Partir sem bagagem, esquecer aquilo que dói, aqueles que magoam e desiludem.

Virar as costas ao mundo, rumar ao pôr-do-sol e ancorar o barco num qualquer porto distante.

Verão

Amanhã chega o Verão. Os dias param de crescer, mas o sol ainda continua a cair tarde. Gosto desta época do ano, dos meses de Maio, Junho e Julho. De sair de casa cedo (nem pareço eu!), passear com a brisa da manhã, ir à praia, enterrar os pés na areia quente, correr para os mergulhos nas ondas frias e passear à beira-mar, entre os meus pensamentos perdidos.

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...
Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...


(Alberto caeiro - Num dia de Verão)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Frase do dia


"Um radical é um homem com os pés firmemente plantados no ar"

Franklin Roosevelt

quarta-feira, 18 de junho de 2008

50 anos de bossa nova

A minha batida de hoje é bossa nova.
O ulular das poesias e dos sons.


Chega de Saudade - João Gilberto e Tom Jobim
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão-de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim


Samba do Desafinado - Tom Jobim e Nara Leão

Você com a sua música esqueceu o principal
Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado
Que no peito dos desafinados
Também bate um coração

Redescobrir sempre

O que me apetece aprender hoje

Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo,
E ao beber nem recorda
Que já bebeu na vida,
Para quem tudo é novo
E imarcescível sempre.

Ricardo Reis, Odes

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Diário de viagem

Ilha da Armona (fotografia encontrada aqui.)
Passeio num barco, nadar entre-ilhas, boiar ao sol e deixar-me levar pela brisa do vento que deixo correr. Banhos de sal à beira-mar nas línguas de areia, que contornam as cidades redescobertas nas ruas estreitas.

Perder-me de cansaço em coloridas mesas de jantar, entre mariscos apanhados na manhã dos pescadores. E adormecer com o corpo quente do sol que nos banhou uma tarde inteira.

Passeios pelas sombras das ruas sevilhanas, de abanico na direita e rayas de gelados na esquerda.

Sonhos desenhados no céu desnudado das nuvens que às vezes nele pairam e ensombram; sonhos de um olhar perdido na tela azul, depois do mergulho ansiado.

Pores do sol nas varandas viradas para o horizonte sem limite e desejos de parar o tempo e eternizar o momento, num canto uníssono.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Dia de Pessoa

Fernando Pessoa
(13 de Junho de 1888 - 30 de Novembro 1935)


Aprendi a sabê-lo quando ainda era pequenina e juntava as letras às duas de cada vez - Mar Portuguez. Gostava das quadras populares, porque eram fáceis de decorar. Achava-o um louco complicado que se desdizia e dizia num só verso, numa só estrofe. Hoje, leio por paixão e entendimento dos versos que sei de cor, das palavras que me enchem quando estou mais avoada, perdida em confabulações.




Tabacaria, de Álvaro de Campos, por João Villaret
(roubado
aqui.)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Noite de Santo António

Parto hoje para as terras do sul, para a ansiada viagem.
Bom fim-de-semana e que Santo António vos inspire.
Vasco Baltazar

Meu rico Santo António
Santinho do meu coração
Dá-me riqueza e saúde
Muita paz e muito pão.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Egoísmos

Às vezes, acho que sou assim...

... mas não gosto...

Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos. (Oscar Wilde)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dá-me a tua mão

O intante de silêncio que hoje me apetece.


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.



Clarice Lispector

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Serias tu?

(Encontrada aqui)

À S., doze anos depois
Encontrei o teu olhar vagabundo por detrás do castanho luzidio dos teus olhos, aqueles que ainda lembro dos nossos anos de meninice. Já nesses dias trazias o olhar adulto, portal de um coração ainda menino. A tua pele escura e os modos em tudo diferentes dos nossos, mais bruscos, mais revoltos, pouco habituados às meiguices da infância que sabíamos não teres tido, traziam as marcas de uma história em que o 'final feliz' não parecia para breve. Eras a heroína de uma vida que cedo virias a perder, ao perderes-te pelos caminhos que não te souberam ensinar.

Abandonada no berço, criada entre tantas iguais a ti, menos bonitas, bem recordo, mas iguais na revolta, na mágoa e na vontade de largar tudo e fugir. Assim fizeste e logo te perdemos o rasto. Ainda te viram, anos mais tarde, de criança ao colo, ainda menina como nós, a pedir à porta da igreja. Quando cheguei, já não estavas lá. Vives fugitiva entre mundos, escondida dos que te querem apanhar e nada te souberam dar quando pediste. Vida cruel a tua, menina abandonada à sorte de quem te quisesse adoptar, pegar ao colo e tomar-te como filha. Mas tinhas o rosto escuro de mais, a pele quase negra e um jeito de cigana que dizias ser a tua má sorte.

Abandonou-te também a vida e largou-te na rua, a sustentar com o próprio corpo ainda menino, tão pequeno como o nosso, uma vida vulgar e infeliz.

Hoje, não sei onde vives, o que é feito de ti... mas, no outro dia, naquela rua fria, naquela sombra do outro lado da rua, quase tenho a certeza que eras tu. Não trazias mais o sorriso nem o brilho do olhar. Apenas esperavas, com ar exausto, que alguém te encontrasse, que alguém te levasse e te pagasse mais umas horas de vida.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Onde será, será?


Onde te levo eu?

Tem o cheiro a maresia e as revoltas marés;

tem as nuvens da cor do mar, da chuva, do areal ou do céu,

num imprevisível estado de graça;

no ponto onde o sol se põe a a noite começa,
a lua sobe a pendurar-se entre duas estrelas de luz.
Onde será?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sofia doente!

(Anita doente)


Estive dois dias de cama, com febre e uma constipação daquelas que dá vontade de arrancar o nariz e seguir caminho.

No primeiro diam, ainda me aguentei na solidão da minha casa, tentando recorrer à companhia de uma televisão que, mesmo tendo trezentos canais, não passa nada de interessante, uma internet que teimou em estar em actualizações logo naquele dia e uma Mulher certa da qual não conseguia ler mais de duas linhas seguidas, quase parecia estar a sofrer de lagrimite aguda! Resolvi passar o dia ao telefone, a matar saudades desta e deste, marcando cafés e almoços, ou apenas matando saudades das vozes amigas. A verdade é que sou uma má doente: fiz greve de fome e amuei no sofá, esperando que 'alguém' (se não fosses tu, o que seria de mim?) me trouxesse morangos e cerejas, para satisfazer os meus apetites!

No dia dois já não aguentei. Fui para casa da minha Mãe. Tinha saudades do tratamento VIP dos dias em que ficava doente, quando era pequenina. Escolhia a ementa, encomendava tostas mistas, chás diversos... todo o serviço sem sair do sofá! Escravizava as minhas pequenas pestes! E assim fiz. Aterrei lá pela manhã e só saí depois do jantar. Vi uns filmes, dormi umas sestas... Quando cheguei, já havia o jornal do dia, pão fresco e aquelas coisas que a minha Mãe tem sempre em casa e que eu adoro! Sobretudo, tinha sempre com quem conversar e, melhor do que tudo, quem me fosse buscar a 'qualquer coisa' que me apetecia a cada instante! (sou horrível!) Estava doente, precisava de mimos!

Era sempre esta alegria quando alguma das 'princesas' ficava doente! As outras instalavam-se ao lado, a ver se também lhes calhava uma gripe e uma boa dose de mimos, nos dias seguintes. Nesse dia não púnhamos a mesa, não ajudávamos nada... era dia de descanso, era o nosso dia. E que bem me soube aquela dose reforçada de mimos! Claro que há coisas que não mudam nunca, não me livrei de ouvir:

- Sais sempre de casa com o cabelo molhado.
- Andas sempre descalça pela casa.
- Não precisas de andar à chuva.
- Não sei para que compras tantos casacos, deves achar que estamos no Verão!


O de sempre, o que sei de cor, mas que ainda hoje me faz rir e que, às vezes, me traz tanta saudade dos dias em que ficava doente e podia passar o dia na cama dos meus pais a ler os meus livros, a comer as minhas bolachas preferidas e a jogar ao 'peixinho.' Foi à procura desses dias felizes, num passado que me parece tão distante, que ontem saí de casa... e acreditem - encontrei!

O engraçado é que a companheira da minha gripe de ontem está hoje engripada e é a princesa lá de casa, com os mimos todos para ela... não crescemos nunca! Ainda bem!