(Anita doente)
Estive dois dias de cama, com febre e uma constipação daquelas que dá vontade de arrancar o nariz e seguir caminho.
No primeiro diam, ainda me aguentei na solidão da minha casa, tentando recorrer à companhia de uma televisão que, mesmo tendo trezentos canais, não passa nada de interessante, uma internet que teimou em estar em actualizações logo naquele dia e uma Mulher certa da qual não conseguia ler mais de duas linhas seguidas, quase parecia estar a sofrer de lagrimite aguda! Resolvi passar o dia ao telefone, a matar saudades desta e deste, marcando cafés e almoços, ou apenas matando saudades das vozes amigas. A verdade é que sou uma má doente: fiz greve de fome e amuei no sofá, esperando que 'alguém' (se não fosses tu, o que seria de mim?) me trouxesse morangos e cerejas, para satisfazer os meus apetites!
No dia dois já não aguentei. Fui para casa da minha Mãe. Tinha saudades do tratamento VIP dos dias em que ficava doente, quando era pequenina. Escolhia a ementa, encomendava tostas mistas, chás diversos... todo o serviço sem sair do sofá! Escravizava as minhas pequenas pestes! E assim fiz. Aterrei lá pela manhã e só saí depois do jantar. Vi uns filmes, dormi umas sestas... Quando cheguei, já havia o jornal do dia, pão fresco e aquelas coisas que a minha Mãe tem sempre em casa e que eu adoro! Sobretudo, tinha sempre com quem conversar e, melhor do que tudo, quem me fosse buscar a 'qualquer coisa' que me apetecia a cada instante! (sou horrível!) Estava doente, precisava de mimos!
Era sempre esta alegria quando alguma das 'princesas' ficava doente! As outras instalavam-se ao lado, a ver se também lhes calhava uma gripe e uma boa dose de mimos, nos dias seguintes. Nesse dia não púnhamos a mesa, não ajudávamos nada... era dia de descanso, era o nosso dia. E que bem me soube aquela dose reforçada de mimos! Claro que há coisas que não mudam nunca, não me livrei de ouvir:
- Sais sempre de casa com o cabelo molhado.
- Andas sempre descalça pela casa.
- Não precisas de andar à chuva.
- Não sei para que compras tantos casacos, deves achar que estamos no Verão!
O de sempre, o que sei de cor, mas que ainda hoje me faz rir e que, às vezes, me traz tanta saudade dos dias em que ficava doente e podia passar o dia na cama dos meus pais a ler os meus livros, a comer as minhas bolachas preferidas e a jogar ao 'peixinho.' Foi à procura desses dias felizes, num passado que me parece tão distante, que ontem saí de casa... e acreditem - encontrei!
O engraçado é que a companheira da minha gripe de ontem está hoje engripada e é a princesa lá de casa, com os mimos todos para ela... não crescemos nunca! Ainda bem!