segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dá-me a tua mão

O intante de silêncio que hoje me apetece.


Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.



Clarice Lispector

3 comentários:

João Paulo Cardoso disse...

O silêncio é um dos mais belos sons que existem.

Beijos.

Huckleberry Friend disse...

E há silêncios que vale mesmo a pena ouvir. Para depois podermos passear de mão dada e falar sobre o quão afinados nos pareceram (incluindo as sequências atonais que tanto te fizeram rir). Um beijo!

Sofia K. disse...

JP, gosto do som dos silêncios...

Huck, tu sabes,,,