Passeio num barco, nadar entre-ilhas, boiar ao sol e deixar-me levar pela brisa do vento que deixo correr. Banhos de sal à beira-mar nas línguas de areia, que contornam as cidades redescobertas nas ruas estreitas.
Perder-me de cansaço em coloridas mesas de jantar, entre mariscos apanhados na manhã dos pescadores. E adormecer com o corpo quente do sol que nos banhou uma tarde inteira.
Passeios pelas sombras das ruas sevilhanas, de abanico na direita e rayas de gelados na esquerda.
Sonhos desenhados no céu desnudado das nuvens que às vezes nele pairam e ensombram; sonhos de um olhar perdido na tela azul, depois do mergulho ansiado.
Pores do sol nas varandas viradas para o horizonte sem limite e desejos de parar o tempo e eternizar o momento, num canto uníssono.
Quase tão fascinante como a viagem em si é o planear da viagem. Andamos com borboletas na barriga até chegar o grande dia e quase não dormimos de véspera. Consigo manter a ansiedade que tinha em miúda, o contar dos dias, riscando os que já passaram no calendário. E posso passar horas a pesquisar sobre o destino. Acho que aprendi essa´arte' com o meu pai e com o meu avô! Não sou tão pouco flexível como eles, mas quase tão organizada. Aprendi de miúda, nas viagens de Verão e de Inverno, de carro, os cinco, a conhecer Portugal e Espanha! Uma história aqui, um museu ali, uma Sé acolá, sempre com datas, lendas! Eram estafantes, mas hoje sabemos que valeu a pena e temos saudades!
A alegria de um dia como o de hoje - em que se toma a decisão, marca-se o dia e os destinos e começa-se a pesquisa - é inexplicável, mesmo quando a paragem final é mesmo aqui ao lado!
O próximo destino será a Andaluzia, na Espanha da minha paixão. O pretexto é um concerto em Cádis, mas mais dias serão para poder rever paraísos, reencontrar sabores, paisagens e descobrir novos portos de abrigo. As viagens por Espanha têm sempe o sabor de 'saltimbanco louco' e o ritmo alucinante de quem não quer perder nada. Nas noites que antecedem os passeios são folhas A4 espalhadas pela cama, numa organização de roteiros gastronómicos, passeios a não perder e histórias a saber. Voltamos cansados, mas refeitos, depois de uma viagem de descoberta. A juventude ajuda a que as noites sejam longas e os dias muito preenchidos. Paragens nas paisagens que ficam na memória, como quando uma nuvem desenhou uma gaivota num pôr-do-sol em Monfragüe. Paragens no cimo dos montes, nas pousadas dos parques naturais, para um chá que aquece a alma e dá força para uma légua mais, nas esplanadas das Plazas Mayores, para um café que nos dá saudades de Portugal ou para umas tapas que nos caem sempre bem, num merecido descanso num banco de jardim, em faróis no fim do mundo a contemplar o mar que desenha só para nós um cenário de paraíso e nas praias onde quase nunca é Verão e que são, quase sempre, só nossas!
Levamos a casa às costas, a literatura por companhia e a força de quem quer ver mais e mais. Desta vez, levo a ansiedade de uma noite de concerto, desejos de gelados de leite condensado no Rayas, em Sevilha, das patatas bravas em nada iguais às tradicionais, mas maravilhosas, em El Puerto de Santa María, rodeadas de muito marisco fresco e de peixes maravilhosos, reencontros com as memórias de um passeio frio, ao fim de uma primeira tarde de Dezembro na Baía de Cádis, ou de uma estátua de Albertí, de quem comprei, depois, uma memorável antologia, em jeito de primeira cumplicidade.
Falta pouco menos de um mês, mas já entrei em contagem decrescente!
Galope Las tierras, las tierras, las tierras de España, las grandes, las solas, desiertas llanuras. Galopa, cabbalo cuatralbo, jinete del pueblo, al sol y a la luna.
! A galopar, a galopar, hasta enterrarlos en el mar!
(...) (Rafael Alberti in Capital de la Gloria, 1936/38)
(Pedro Guerra - Contamíname)
Nota: Dedico esta entrada à Madrinha, que me apresentou este 'cantautor', pretexto da minha romaria!