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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

País de cigarro livre

Ontem, enquanto pensava ir ao Procópio, só me vinha uma ideia à cabeça: será que lá se pode fumar? Confesso que não imaginava aquele lugar sem as chaminés por cima dos habitués... Na verdade, acho que até perdia um pouco o encanto e o ambiente característico dos charutos, cigarrilhas, cigarros e cachimbos! E não é que se pode mesmo! Há coisas que ainda bem que não mudam... País de cigarro livre, já dizia o Garrett.

(...) No entretanto vamos acender os nossos charutos, e deixemos os precintos aristocráticos da ré: à proa, que é país de cigarro livre.

Não me lembra que lord Byron celebrasse nunca o prazer de fumar a bordo. É notável esquecimento no poeta mais embarcadiço, mais marujo que ainda houve, e que até cantou o enjoo, a mais prosaica e nauseante das misérias da vida! Pois num dia destes, sentir na face e nos cabelos a brisa refrigerante que passou por cima da água, enquanto se aspiram molemente as narcóticas exalações de um bom cigarro da Havana, é uma das poucas coisas sinceramente boas que há neste mundo.

Fumemos!

Aqui está um campino fumando também gravemente o seu cigarro de papel, que me vai emprestar lume.
– «Dou-lho eu, senhor...» acode cortesmente outra figura mui diversa, cujas feições, trajo e modos singularmente contrastam com os do moçárabe ribatejano.
Acenderam-se os charutos, e atentámos mais devagar na companhia em que estávamos.
in Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett (1799-1854)

Bloody Mary no Procópio...


O Procópio é um dos meus bares preferidos em Lisboa. Muitas vezes, ao fim da tarde, os jantares são antecedidos por um par de horas ali passadas a beber Bloody Marys! É quase como chegar a casa de um amigo para uma conversa ao pôr-do-sol.O ambiente acolhedor é espaço de tertúlia, mas também de tête à tête. Foi lá que ontem fui acabar a minha tarde. Já não ia ao Procópio há algum tempo, mas tenho sempre a sensação que nunca deixei de lá ir – está sempre tudo na mesma. O piano, as estantes e prateleiras com esculturas, pequenas estátuas e a música maravilhosa! É um sítio onde a conversa não tem prazo para acabar, muitas vezes só somos derrotados pelo João Pestana ou pelo sino da igreja que chama para jantar. Fica a certeza de que volto em breve.



Nota: O Procópio faz-me lembrar uma amiga com quem vou tomar cafés de quinze minutos e que se prolongam por horas. Qualquer dia vamos lá as duas!