Torga: "planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas, Miguel Torga é um nome ibérico, característico da nossa península(...)"
Hoje é Dia da Terra e tomo-o apenas como pretexto para aqui pôr o poema Terra de Miguel Torga, um dos meus poetas de eleição. Cantor do mundo rural, da terra portuguesa (Hoje sei apenas gostar / duma nesga de terra / debruada de mar - in Pátria) e das forças telúricas, poeta das cores da terra e da realidade quente do interior português. Caminhante numa busca incessante da intimidade com os elementos primordiais e defensor do que chamou 'espírito da terra'.
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!
7 comentários:
Não poderia ser mais certeira, esta opção por Torga e por este poema.
P.
É verdade, muito bem escolhido.
Sabes bem como embirro com os dias disto e daquilo... mas rendo-me quando servem para nos dares a ler poemas como este! Conheço o teu apego à(s) terra(s), até porque já nos ensinámos algumas. Aceita, por cada pedra, árvore ou charco em que tenhamos tropeçado, um beijinho quente.
É lindo o poema de Torga, Sofia.
Beijo pela lembrança.
boa associação!
carinho meu
Obrigada, Baudolino. Torga tem quase sempre uma palavra certeira!
RAA, também tenho de pôr aqui o O'Neill!
beijinhos
Huck, eu também embirro, mas já que existem vamos aproveitar para lembrar poemas como este a que sempre me apego!
beijinhos
Adelaide e Júlia, ai os poemas de Torga...
beijinhos às duas
gosto mais dele como contista, Sofia, mas valeu na mesma. E já que te devo um "segredo",aí vai: tive o prazer de o conhecr em pessoa e a recordação mais bonita que tenho dele é de infancia, quando ele imitou para mim a voz de um passarinho, porque eue estava enfastiada com a conversa dos adultos :-)
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