Cais é onde tudo chega e de onde tudo parte!
Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve como uma recordação duma outra pessôa
Que fôsse misteriosamente minha.
Álvaro de Campos - Ode Marítima
Há um ano foi o meu dia de chegar, hoje o de partir.
Parto dentro de momentos, mas parto sem dor, talvez apenas com a sensação da saudade que fica de um porto onde chegava quase todas as manhãs, para partilhar a luz do dia, o pôr-do-sol de ontem ou a magia dos olhares com que me cruzo pela vida.
Desenhar com as letras as emoções, as viagens, os cheiros e as cores de um jantar à luz das velas, de um momento à beira-mar, de uma paisagem que fica a pairar por detrás dos nossos olhos, horas sem fim.
Sonhos perdidos, desejados, conseguidos. Altos e baixos, saltos e quedas, mãos que nos levantam, braços que nos consolam, sorrisos que se rasgam para partilharmos os mundos.
Continuarei a aportar noutros cais que fui conhecendo e que são verdadeiros portos de abrigo, onde me deixo passear, mas este vai estar encerrado. Talvez volte um dia, quem sabe, para um novo cais, com uma nova maré... mas agora é tempo de outras partidas, de outras descobertas.